domingo, 18 de julho de 2010

Apareceram todos!

Agostinho Silva
Lá apareceram todos… não são precisos muitos gestos para se perceber de onde vieram. Nestes encontros, costumo dizer que as esposas também dever estar presentes, pelo menos uma vez ou outra; para perceberem porque é que nós somos assim. Para mim, vários desconhecidos, mas muito rápido partilhamos o que nos vai na alma, sendo que eu prefiro sempre sentar-me junto aos mais desconhecidos, que mais não seja para falar Jarmelo (aquela doença).
Foi logo a primeira coisa que proclamei: sentem-se longe dos conhecidos, e ainda mais longe de familiares (é que a família já nem nos pode suportar e ainda tem que nos aguentar nestes dias de transe espiritual?!).  
A Cristina do Victor Baptista (amada do; como se fosse uma citação – não uma excitação), fez o favor de recordar um episódio de há quase 25 anos, em que eu armado em valentão, não comi as sandes depois de dar sangue… e ao sair do hospital de S. José… desmaiei (Cristina, há fraquezas de “políticos” que não se devem expor na praça pública… vocês haviam de ter visto a Cristina há 25 anos… quem é que não desmaiava??!! Ainda por cima, eu teria um ano ou dois de votos…).


Sardinha para as mesas, arregaçadas as mangas, e era vê-los a comer e chupar os dedos. Uma aventura daqui, uma história dali e lá se despachou o assunto. Eis que para surpresa geral, um espontâneo, irrompe na sala e zás!! Corazón que palpita por su amada; UN PAÑUELO DE SILENCIO, traca traca traca (castanholas)… cavalos e  passeio romântico em Sintra (quem não se lembra dos efeitos sonoros dos Folhetins radiofónicos??). A casa só não veio abaixo, porque está muito estruturada!


Aqui há que fazer uma ressalva ao restaurante: não tinham bebidas de tampa larga… é grave! Teve que esse tal espontâneo, recorrer-se de um bar ali ao lado, para se “surtir” de tampas largas (acho que vereis em Vídeo brevemente esse tal momento “YOUTUBE” que vai arrasar nos tops de visualizações!!).


Finda a “faena”, toca à retirada. Já fora do restaurante, reparo numa figura, que todos chamavam Pedro, mas que num primeiro momento, era para mim, um desconhecido. Fixei-o, e atirei: Tu és o Pedro Baptista?? O Pedro que foi meu “perfeito” no 2º ano? Ao que ele respondeu: sou… e tu não és o Agostinho, és o AMORIM (era assim que nós às vezes ficávamos com os nomes ou dos irmãos ou das terras, eu era o Amorim mais novo). Gostei de rever o Pedro! Ele ao que parece também ficou muito satisfeito de ver que aquele miúdo tímido, aos poucos se transformou num (algumas vezes) exagero de extrovertido.

O Fernando Carvalho, convidou-nos para um “quarto de hora” na Charneca da Caparica… lá aceitei. Mas afinal o que é um “quarto de hora” para um homem que faz a gestão de “200 quartos de dormir”? lá fomos nós até aos aposentos do Fernando Carvalho. Tivemos que beber “umas coisas” e comer as “especiarias”… conversar, falar e rir até que outras obrigações de relógios nos fizeram desfazer a “súcia”.

Lá tive que provar os maranhos!!! a sua amada (do Fernando), embora pareça impossível, ainda é mais gira que a minha!! Mas o Fernando merece! foi um previlégio, que ele me tenha levado a Setúbal, trocámos uns minutos de conversa como todos sabereis... O Fernando é um grande HOMEM, e reconhecemos os dois: AS BASES FORAM os anos na SVD.

Gostaria de vos dizer o seguinte:
 

quinta-feira, 15 de julho de 2010

REALMENTE FOI BEM EMPREGUE







Óscar Mota

Meu Querido Amigo Padre José Hipólito Jerónimo,





Permita-me que o trate assim, pois decorridos todos estes anos, tenho a certeza que o tenho no coração e que faz parte do rol de pessoas que me são queridas.


É sempre com enorme satisfação que ouvimos as suas palavras, pois, elas são o prenúncio puro e sincero dos mais elementares valores de carinho e amizade de nutre por nós VERBITAS DA SOCIEDADE CIVIL (ex-alunos).

Depois da minha caminhada pelo Seminário, entrei em 05 de Outubro de 1980 (Tortozendo) e sai em 24 de Junho de 1987 (Fátima), hoje, o pouco que sou, mas com firme convicção de realização pessoal, na vertente profissional e familiar, devo-o, em grande parte, à minha passagem pelo Seminário e pelos valores morais, socais e cristãos que ai assimilei.

No entanto, a minha passagem pelo seminário, como todos nós, teve altos e baixos e, a adaptação no primeiro ano não foi nada fácil.   

De facto, quando entrei no Seminário, vindo da Tele-Escola da Barroca do Zêzere, os alicerces trazidos desse arcaico método de ensino deixavam muito a desejar e não foi com grande admiração e espanto que no primeiro período de avaliação fui corrido com negativas a tudo, com excepção do Desporto e Religião / Moral.

Perante este cenário, associado às compreensíveis saudades da família e cantinhos da Barroca, começaram a ocorrer dias de grande sofrimento e choros, que se agravavam aquando pisava a sala de estudo às cinco da tarde. Até lá, as tardes desportivas do futebol de onze e de cinco, provocavam-me um efeito tranquilizador e relaxante com perda de memória momentânea das 9 negativas e do cheiro do pinhal da Barroca.

Ora, numas dessas tardes de estudo, em que brotava mais lágrimas das concavidades dos olhos do que água da nascente do rio Zêzere, dirigi-me - não me lembro com ou sem autorização – ao telefone que se situava nas imediações do escritório do Senhor Reitor, há data, o Padre Jerónimo. Ali, tentei chegar à fala com a minha mãe com o propósito de me virem buscar. No entanto, face aos meus queixumes e lamúrias, o Padre Jerónimo interceptou-me e impediu que consuma-se as minhas mais que decididas pretensões. 

Naquele momento, recordo-me que chamei e apupei-o de tudo o que me vinha à lembradura, acreditem, chamei-lhe mesmo de tudo (acho que até lhe disse que matava a equipa toda do BENFICA). Porém, o Padre Jerónimo, tal e qual um pai para com um filho, teve uma compreensão infinita e com alguma dificuldade, entre algumas palavras afáveis, lá me conseguiu acalmar e encaminhar para o jantar. 

A partir daquele dia, apesar de ter chegado ao 3º e último período com a marca das 9 negativas, as coisas melhoraram e nos anos seguintes começar-me-ia a sentir no seminário como peixe na água, ao qual, a água da piscina também não era alheia ao meu estado de espírito.

Passado este episódio, penso que no ano seguinte, sendo eu chefe de desporto, na composição das equipas, tarefa que me competia, não conseguindo a disponibilidade de ninguém para a baliza, coube-me a mim, quão bónus pater família, a tarefa de guarda redes de uma das equipas. 

Nesse jogo, o Padre Jerónimo, equipado a rigor, com o calção preto e cordão branco, chuteiras pretas com riscas brancas e reviradas na ponta para cima, numa desmarcação feita pelo meu amigo Chefe da Covilhã (Luís Garcia), aparece isolado na baliza norte (esta baliza não tinha rede de fundo uma vez que era encostada ao muro), tendo como único adversário a minha fraca figura de um metro e meio e 40 kilos. Perante jogada iminente, eu, sem luvas, olhei para o Padre Jerónimo, que mais me parecia o RIVELINO brasileiro, e pensei: é hoje que o Padre Jerónimo acerta contas comigo por tudo o que chamei naquele dia do Telefone e me prega aqui à parede. Porém, o Padre Jerónimo, depois de dois assopros, característico dele, deu um enorme pontapé, tendo a bola, para meu alívio, ido parar junto da casa velha, proferindo de seguida o seguinte: “fou fou, mal empregada”.  

Hoje, caro Amigo Padre Jerónimo, relembrando uma homilia sua em Fátima, na qual lhe contei 61 REALMENTE, só me resta dizer que, REALMENTE FOI BEM EMPREGUE o tempo que consigo convivi e espero ainda partilhar.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Um cidadão exemplar

José Teodoro Prata

Nada tenho a acrescentar ao texto do Francisco Barroso que, numa mensagem curta, esgotou o que havia a dizer sobre o P. Jerónimo. Mas como planeara escrever sobre ele, antes de saber que também tinha direito a filme, acho que não é caso para desistir. Honremos então este homem bom, aproveitando a saturação de gente boa que há no céu.

O Pe. José Hipólito Jerónimo apareceu na minha vida perto de 1970. Já lhe conhecia os pais e alguns irmãos, pois ainda somos parentes e eles tinham uma fazenda na encosta da serra onde eu cresci. Por esses anos, ele andava a estudar em Coimbra e ia frequentemente ao Tortosendo. Depois fixou-se ali e foi meu perfeito e professor de Inglês, nos 4.º e 5.º anos (talvez só no 5.º ano).

Melhor do que em mim, é na quase veneração que o Maurício e o José Eduardo, entre muitos outros, têm pelo Pe. Jerónimo que percebo a importância do seu magistério. Bastou-lhe ser ele próprio e partilhar connosco o seu gosto pela vida, para nos amparar no nosso crescimento. Além da mera gestão dos dias e da educação pelos valores, não nos dava lições de nada, não se obcecava em nos converter a coisa alguma. E assim nos ajudou a construirmos as pessoas em que nos tornámos. Pessoalmente, esses anos foram decisivos para o meu futuro: cresci como pessoa e como estudante, amadurecendo para o Secundário do Pe. Vaz.

Mas só o descobri, verdadeiramente, quando já estávamos longe, fisicamente. Na segunda metade da década de 70 e depois nos anos 80, fiquei solto pelo mundo e tive de reaprender quase tudo, numa constante acção e reflexão. E foi então que ganhei consciência da importância do Pe. Jerónimo, na minha vida. Além das recordações que dele tinha, usufruía das suas idas frequentes a São Vicente da Beira. A forma como se relacionava com as pessoas e a sua intervenção na vida da nossa comunidade tornaram-se, para mim, um exemplo de cidadania.

Na relação de cada um com os outros, há duas espécies de pessoas: as que vivem consigo próprias, no pequeno mundo que as rodeia, e as que se dão aos outros. Estas últimas ainda se dividem em duas subespécies: as que se dedicam aos outros com o objectivo de os tornar naquilo que querem que os outros sejam e as que se entregam aos outros, sem nada exigir em troca.

Por esses anos, conheci uma candidata à Assembleia da República que considerava parva uma sua apoiante, por lhe ter dito que rezava por ela, a Nossa Senhora, todos os dias. Esta candidata não foi eleita, não merecia o povo que tinha. Ela pertencia à subespécie dos que se dão aos outros, mas só na medida em que os possam transformar noutra coisa diferente do que eles são. No fundo, sentem desprezo por aqueles com quem trabalham. Há muitos destes, na política, na sociedade, na religião… A maioria não são más pessoas, mas apenas trabalham pelas ideias, não com pessoas.

O Pe. Jerónimo pertence à subespécie daqueles que se dão aos outros sem nada exigir em troca. Ele sente-se feliz na partilha da vida com os outros, mas não lhes exige mudanças. Cada um é como é. Vive bons momentos com o Pe. Jerónimo e depois aproveita o que quiser do seu exemplo de vida e da sua palavra. Faz-me lembrar o Pe. Martins de Machico, que visitei em 1980. Logo na sacristia, bebemos em cálice de aguardente de cana e mel. Depois levou-nos de carro até um café à beira mar e raspámos umas lapas cruas com cerveja. Mas, na conversa, preocupou-se com a crise por que passava uma pessoa do grupo. E defendeu que a acção da Igreja se devia centrar na família. Não perdia festa de baptismo, aniversário ou casamento. Era no meio das pessoas que ele sentia a concretização do Evangelho. Tudo bem, não fora ele também político, em quem todos votavam. Por isso o bispo já lhe retirara a paróquia, que ele continuava a pastorear, por não conhecerem os paroquianos melhor pastor.

Mas voltemos ao nosso Pe. Jerónimo. Foi ele o anfitrião dos primeiros convívios de antigos alunos, no Tortosendo. Antes de os encontros se tornarem uma tradição e sobretudo adquirirem a actual componente missionária, já o Pe. Jerónimo tinha sempre as portas escancaradas para os grupos de ex-alunos que ali se juntavam a confraternizar com os seus colegas de há muitos anos. Era pouco mais do que comer, beber e conversar, mas o Pe. Jerónimo via longe. Hoje, percebemos que o Pe. Jerónimo teve razão fora do tempo. Antes dos outros, ele percebeu a importância para a Igreja do retorno dos antigos alunos à sua casa comum.

Há dois anos, no Dia de Todos os Santos, vivi um momento que exemplifica tudo o que quero dizer. Tradicionalmente, é o Pe. Jerónimo que celebra os ofícios religiosos desse dia, em São Vicente da Beira. Depois da missa, a comunidade formou em procissão, rumo ao cemitério. Lá chegados, Pe. José Hipólito Jerónimo falou-nos dos santos que cada um de nós ali tinha. Olhei para os rostos das pessoas e neles resplandecia uma doce tristeza. Depois, à saída, nos demorados reencontros de familiares e amigos, o Pe. Jerónimo era de todos. Todos se sentiam orgulhosos em tê-lo consigo e com ele ter partilhado aquele momento. Todos sentiam orgulho na pertença comum àquela comunidade.

Se se fizesse um votação, para saber qual o vicentino mais querido entre iguais, não tenho dúvidas de que ganharia o Pe. Jerónimo. E o resultado seria o mesmo, se a votação fosse entre os que conviveram com ele no Tortosendo. O engraçado é que ser assim não lhe custa nada, é genético. Do lado dos Hipólito, tem muitos antepassados artesãos, gente de porta aberta, sempre em contacto com os outros. Do costado dos Jerónimo, há agricultores-pastores, gente ligada à terra, mas de horizontes largos, por via dos gados.

Afinal, para se ser um grande homem e um homem bom, não é necessário procurar muito, nem convém, basta gostar dos outros e sermos nós próprios. 

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Os antigos alunos são a marca verbita, por excelência, na sociedade civil...


“Falo” como se a verdade, neste caso, fosse igual para todos. É nesse pressuposto que afirmo que o Pe. Jerónimo foi uma das pessoas que mais marcou, positivamente, a minha vida.

A alegria contagiante que punha nas histórias que nos contava e nos empolgantes desafios de futebol que tanto gostava de partilhar connosco (com algumas caneladas à mistura, não intencionais, (?) diga-se).

O respeito com que nos tratava, como se já fossemos homens como ele.

A sua sagacidade para acalmar as tempestades: quando connosco ia jantar àquele salão enorme, que era também salão de festas, onde praticamente todos (o pessoal do Tortosendo) experimentámos o teatro, e quando parecia impossível fazer a oração de acção de graças pelo reboliço de dezenas de miúdos excitados, depois de horas a estudar em silêncio, ele subitamente nos captava a atenção com uma anedota, que esvaziava a tensão, e nós, após alegre risada, e como forma inconsciente de reconhecimento emudecíamos solenemente.

São coisas impossíveis de esquecer.

Só um homem bom e sábio sabe ser para os outros o exemplo edificante que ele foi e é. E estando ainda entre nós, o Céu pode esperar, pois que pelo que consta está cheio de gente boa, com a falta que há cá pela terra.

Um abraço amigo do Francisco Barroso.


domingo, 4 de julho de 2010

Um prefeito existencialista

   José Teodoro Prata

Trinta e cinco anos depois, reencontro, neste vídeo do “Sabor da Beira”, o meu prefeito do Secundário. Continua igual a si próprio. Nunca lhe conheci discursos de circunstância, nem indicações de caminhos a seguir. Sempre as mesmas palavras de reflexão, simulando desconhecimento de soluções, num convite ao reencontro com nós próprios, para escolhermos os caminhos da nossa vida.

Naqueles anos revolucionários de 1974-75, o Pe. José Vaz, além de reitor do Seminário do Tortosendo, foi prefeito dos alunos do Secundário e professor de Filosofia e Religião e Moral.

Recordo bem uma conversa que eu e o José Antunes tivemos com ele, num entardecer outonal do início do 6.º ano. Passeando em redor do edifício, qual Aristóteles com os seus discípulos, ele falou-nos de D. António Ferreira Gomes, da carta a Salazar e do longo exílio longe da sua diocese do Porto. Ninguém diria que meses depois estávamos em revolução e ele, um homem de pensamento, bloqueado na encruzilhada de tantas direcções e contradições.

Não era dele o caminho do sinistro cónego de Braga e do seu movimento Maria da Fonte. Também não era o do movimento dos Cristãos pelo Socialismo, que agregava o Pe. Guerra, o Pe. Jerónimo e alunos como o José Leitão e o Elísio Gama. Não seria por oposição ao socialismo democrático, pois ele fora educado na social-democracia alemã e falava-nos dela com palavras elogiosas. O que o distinguia é que ele não era um homem de acção. Ele existia para pensar e nos questionar nas nossas escolhas.

Nas aulas, dava-me cabo da cabeça com a Filosofia. Adolescente prático, mais camponês que outra coisa, até me fazia doer a cabeça com tanta interrogação. Mas adorava as aulas de Religião e Moral. Actualmente, sempre que lecciono a História do 9.º ano, recordo as conversas que ele teve connosco sobre Gandhi e Luther King. E partilho-as com os meus alunos, acrescentando Che Guevara, uma mistura que o Pe. Vaz nunca faria, pois não se juntam os dois santos pacifistas com esse mártir também, mas guerrilheiro. Imagino a discordância do Pe. Vaz com os indígenas da região onde mataram o Che, que o veneram como santo, com capela e romaria, num culto à margem da Igreja.

Na sua mensagem em vídeo, ele pede perdão pelos seus erros como educador. Eu, qual Ideafix, só não lhe perdoo ter mandado cortar a cerejeira do caminho para a lavandaria, porque os alunos roubavam as cerejas. Então não se recordava de como se dizia nas nossas aldeias? Roubar para comer não era pecado! Crime, Pe. Vaz, foi não ter mandado cortar o diospireiro junto à piscina, pois várias vezes escorreguei naquele musgo húmido e, se caísse, era morte certa, sem ninguém saber onde é que eu estava!

Concordo com a sua proibição de representarmos a Ceia dos Cardeais do Júlio Dantas. Claro que a coisa não ficou por ali e tivemos de tirar a prova dos nove! Em S. Vicente, levámo-la depois à cena, eu, o Chico Barroso e o Quim Trindade. E, ao gosto do Pe. Vaz, descobrimos, por nós próprios, que a peça não valia nada. Mas, embora contrária à sua natureza, a proibição do Pe. Vaz teve sentido, pois ensinou-nos que tudo tem limites e, quando não são auto-impostos, têm de ser estabelecidos pela sociedade.

Também compreendo a proibição de voltar ao Seminário depois da minha saída, um mês antes dos exames do 7.º ano. Esta concordância é-me dolorosa, pois era costume os alunos saídos recentemente voltarem ao Seminário durante os exames. Aquela era e é a minha casa e a proibição deixou-nos, a mim e ao Chico Barroso, em situação difícil. Culpa minha, pois eu é que estiquei a corda e deixei o Pe. Vaz sem alternativa, como educador. O Chico acabou por ser uma vítima da forma emocional como eu reagi à sua expulsão, pondo em causa muitas coisas, eu que há largos meses vivia uma crise religiosa e por ela teria acabado por sair no final do ano.

O professor Ernesto dizia-nos que andávamos na melhor escola. Eu acho que frequentei a escola mais democrática que conheci até hoje. E digo isto com mágoa, pois sou professor e a escola actual tem uma democracia pouco mais que formal. Nesta escola, tudo é pensado e programado pelos adultos. Os alunos não têm qualquer autonomia e estão totalmente infantilizados por pais e professores. Não há, não pode haver, Padres Vaz a mostrar caminhos e a desafiar escolhas. Não há espaço para isso. Está tudo pensado, é só comer a papinha. Os novos adultos estarão maduros para serem imolados pelos vampiros de sempre, sem pensamento crítico, nem reacção.

Sou um discípulo do Pe. Vaz, totalmente. Reencontrei-o, talvez em 1978. Disse-lhe que aderira à UDP e era dirigente estudantil da Escola do Magistério Primário de Castelo Branco. Senti que ele perdeu a esperança em mim. Depois, comecei a preferir concentrar-me nos meus pequenos mundos de cada momento. E, pouco a pouco, voltei a recordar-me do Pe. Vaz. Nos últimos anos, um certo fascismo social apoderou-se das nossas escolas. Na minha, remei contra a maré quase sozinho, ingloriamente. Continuo fiel a mim próprio, mas deixei os poderes aos outros.

Às vezes, imagino um reencontro com o Pe. Vaz. Seria do género do António Lobo Antunes com o seu amigo Melo Antunes: meias palavras esporádicas, tudo na presença física, pelos gestos, nos olhares.

A FIGURA do MOMENTO!



Conhecem a canção do José Malhoa, que refere “Quando a festa começar…” Mas eu digo “Quando da SVD e AAVD se tratar: “ele vai a todas”….
    
De quem se trata?! Pois claro, é do Madeira Antunes, natural de Casegas, que frequentou o Seminário do Tortosendo e presentemente reside no Norte, na cidade da Maia. Mas para ele não há distâncias… pois o que conta é conviver com os amigos!
    
 Que grande entusiasmo… e exemplo para todos os que estando relativamente perto do local das actividades, ficam isolados no seu comodismo!
    
 Nestes tempos, caracterizados pela facilidade de mobilidade… a distinção de “PERSONA MOBILE” vai naturalmente para o Madeira Antunes… pela sua garra e dedicação à causa dos antigos alunos verbitas!
    

Tenho dito!
                           
António Pinto