quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A alegria do Evangelho é para todo o povo


«Fiel ao modelo do Mestre, é vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo. A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém; assim foi anunciada pelo anjo aos pastores de Belém: “Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo” (Lc 2,10)» 


Papa Francisco, exortação apostólica A Alegria do Evangelho, 23 


excerto e imagem da mensagem de natal do Pe J Antunes, svd

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O sacrifício do burro e da vaca

Maria estava com um olho no menino e outro em José, não fosse ele deixar esturrar o suculento e borbulhante guizado, que a fogueira cozinhava em enorme caldeirão (não havia panelas a pressão), em fogueira a lenha de oliveira velha e pinheiro manso. O petisco, saboroso e bem cheiroso, é o resultado do abatimento da vaca e do burro, que José  Maria tinham encontrado na gruta. José, com a pachorra que se lhe conhece, mexia o caldeirão com uma trabalhadíssima colher de pau (puro artesanato) os restos mortais da vaca e do burro, pois a fome e a miséria eram tantas, naqueles tempos de crise, que os dois pobres nazarenos, em viagem de recenseamento a Jerusalém, não tiveram alternativa senão sacrificar os quadrúpedes de modo a amenizar a época natalícia e a torná-la, pelo menos, um pouco mais agradável ao estômago.
Sabemos que uma jovem mãe precisa de se alimentar bem para que o leite não falte ao crianço, mesmo que ele seja o menino Jesus. Que, aliás, dele bem precisa, pois já lá vão tantos anos desde o seu nascimento, que já era tempo de subir de categoria sócio-antropológica... pelo menos para jovem adulto. Mas não! Não há maneira de isso acontecer... Ou será que tem de acontecer primeiro em nós, porque nós também andamos cá bem para trás?
José sacrificou o burro e a vaca porque estes tempos de crise o obrigaram. Oxalá não apareça algum milionário (dos parvos) a reivindicar a posse das bestas e uma indemnização por roubo e outros prejuízos.
Mas ali não havia, sabemo-lo, alternativa: ou morria o burro e morria a vaca ou morriam os inquilinos “okupas” da gruta . “Okupas”, à espanhola! Claro!
Quanto ao comer carne de burro, para nós Portugália nem é assim tão estranho. Há anos, ali para as bandas de Torres Vedras (Oeste) foram abatidos para alimento - são alimento corporal - umas centenas de burros. Que, depois, foram comercializados em bons talhos da capital (Lisboa) e bem confecionados em amplas cozinhas de hotéis de  vária estrelas. O hotel-gruta de Belém só tinha uma estrela. Já se vê que era para o fracote em “comparança” com os de cinco (que já são muitos).

Quanto às vacas, o abate acontece todas as semanas, mais velhas ou mais novas (as novas chamam-lhes vitelas – um nome bastante feio!) E, embora eu tenha pena delas: nada posso fazer, pois vem logo os fiscais com as leis da procura e da oferta. Já digo, uma péssima invenção do nosso omnipotente e omnipresente mercado. Que raça de senhor tão poderoso e malvado!
Mas deixemos o menininho em paz, pois a carnuça é só para os adultos de denta dura (Maria e José). Ele pequeno ainda só bebe o leite que Maria produz e lhe dá. José está bem, pois as proteinas permitem-lhe conservar a saúde. Aqui há uns anos ele andava um pouco reles (doente), pois faziam-no tão velho que não admira que nesta época do inverno se sentisse um pouco apanhado pela gripe e constipações. Até porque na altura não havia Cêgripe!
Mas vamos deixar a coisa por aqui. Se for preciso vamos lá ao tribunal ser testemunhas abonatórias de José e Maria, que o pequeno ainda não pode ser importunado, pois não tem a idade canónica para assumir responsabilidades.

Com um caricioso e terno abraço nataleco para todos os que ainda são capazes de se deixar encantar por um menino, um casal pobre e dois quadrúpedes.


J.J.AMARO

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O Bode Expiatório


Está tudo do avesso. O mundo está ao contrário e, mesmo sem conhecermos as causas profundas, todos temos essa intuição, essa perceção. A evolução moral, como a pessoal, é lenta e tem por vezes recuos significativos. Em termos coletivos estamos num desses períodos seguramente.
É de todos conhecido o facto de nas sociedades primitivas o valor ou a importância residir no coletivo. Era o grupo que era importante, não o indivíduo, a sobrevivência da tribo ou grupo dependia disso. A pessoa, nesses tempos, não tinha qualquer valor além do grupo ou da comunidade em que estava inserida. Aliás, quando as coisas corriam mal, o grupo para apaziguar a ira das divindades, que naqueles tempos eram tão cruéis quanto os homens, pois que criados à sua imagem e semelhança, não tinham qualquer pudor em sacrificar-lhe um dos seus.
Se recuarem à mitologia grega, que é já uma coisa recente, lembrarão que Homero e Hesíodo atribuíram aos deuses, tudo aquilo que entre os homens é repreensível e sem decoro: roubo, adultério e enganos recíprocos. E porventura em território mais conhecido (a Bíblia) lembrarão que no tempo da Páscoa os judeus se dirigiam a Jerusalém para no Templo oferecer sacrifícios a Iavé. Uma das cerimónias consistia em largar no deserto um bode para o qual o Sumo-Sacerdote migrara os pecados do povo com a função de ali os expiar: o bode expiatório.
É fácil de ver que os tempos não têm sido fáceis, mas tem havido evolução, e como ensina o filósofo José António Marina: o uso racional da inteligência, que se materializa na procura de evidências partilhadas, intersubjetivas, que se empenha numa corroboração incessante daquilo que pensa, mediante a critica, o debate, a prova, melhorou a nossa convivência, libertando-nos da tirania da força e instaurando a orbe da dignidade humana.
O surgimento da ética como possibilidade que a inteligência tem de quebrar a lógica do mundo, que é a lei da selva, o reforço do direito com a consagração dos direitos de personalidade, do principio da igualdade, que permitiu o surgimento dos regimes democráticos, que assentam no princípio da responsabilidade pessoal e nos levaram a um patamar civilizacional que pensámos indestrutível…todavia e de repente: ai, ai, ai, que isto assim não pode ser…parece que está tudo a ruir!!!
O que nos está a acontecer é um terramoto moral. O capitalismo, com os seus fetiches hedonistas, levou-nos a níveis de consumismo e individualismo insustentáveis, com dinheiro fácil, muito dinheiro, para termos tudo do bom e do melhor. Pensávamos que só assim merecíamos a aceitação do outro. Sacrificámos tantas coisas para ter mais dinheiro. Um emprego não chegava, arranjavam-se dois. Era preciso trocar de carro, uma casa maior, uma outra casa de férias… acabámos por nos vender por um prato de lentilhas, tal como Esaú vendeu a sua primogenitura e, no entanto, vivemos hoje tempos de amargura.
E os políticos que no plano simbólico e institucional representam o bonus pater família coletivo, que deviam garantir a justiça, a equidade e o equilíbrio entraram eles próprios em desvario total. Para manter o poder ou para o alcançar tudo se tornou válido. Sustentam a ação num discurso totalmente esquizofrénico, um discurso de feirantes, a vender ilusões quando na oposição e mal alcançam o poder, um discurso inverso, que sustentam com a alta responsabilidade de estadistas, permitindo-se subverter os mais elementares princípios da confiança e da boa fé.
Como é que um conjunto de cidadãos que se propõem governar um país o leva a uma situação de ruína, por dividas colossais que se vão acumulando ano após ano? Por ação, porque para ganhar eleições gastam rios de dinheiro em obras de fachada, muitas quase inúteis só para pagar favores às grandes empresas que os sustentam. Por omissão, por deixarem a banca em roda livre a criar uma riqueza virtual até onde ela própria achou possível.
Foi a alta finança que com a sua ganância infinita e os Estados com a sua inoperância que causaram este terramoto a que deram o pomposo nome de divida soberana, de que não há responsáveis. Os responsáveis não são os banqueiros que fraudulentamente nos enganaram a todos nem os órgãos do Estado que tinham o dever de os supervisionar e não o fizeram. Os responsáveis somos nós. Todos nós que temos que a pagar, filhos e netos…
Ora, é este o aspeto mais relevante do problema. É que apesar da Constituição, de imensas leis em vigor e de tribunais instalados, o meio encontrado como o mais adequado foi o da subversão do princípio de responsabilidade individual. Sendo de grande melindre incomodar os sábios políticos (que raramente têm dúvidas e nunca se enganam) e os poderosos, ataca-se quem poucos ou nenhuns meios tem de defesa, através da conversão (perversão) da responsabilidade individual em responsabilidade coletiva.
Como já se percebeu, o direito já de pouco nos vale. O país está atulhado de leis. Nunca houve tantas como agora e como é que nos sentimos? Como um bode expiatório, inelutavelmente condenados.
O que é que precisamos? De uma moral e de uma ética forte, em que seja natural o respeito pelo outro. Em que o outro seja olhado não como uma mera possibilidade de nosso enriquecimento material, mas antes como possibilidade do nosso crescimento pessoal e interior. Nós não viemos ao mundo ser ricos ou pobres, nós viemos ao mundo, antes de tudo para ser felizes…e esquecemo-lo tantas vezes.
O homem é um ser cheio de possibilidades, mas tão frágil, inseguro e tão perdido nas suas ambições. Afinal de nos servem a Constituição, os códigos, os contratos se não se houver respeito, se não houver palavra?
Numa situação de desamparo como esta deixo-vos com salmo 22 de David: Não te afastes de mim, pois a angústia está perto, e não há quem ajude. Essa é que é essa…

novembro 2013.

Francisco Barroso

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Magusto - Lisboa


António Pinto

16 de Novembro de 2013
Como é tradicional, anuncia-se a realização do Magusto de S. Martinho, para o qual se convidam todos os Antigos Alunos com seus familiares e amigos. Decide-te a participar e vem passar uma tarde alegre!
  
A Delegação Regional encarrega-se das castanhas assadas, chouriços, febras e pão, do vinho, sumos… e apoio logístico! Quem quiser trazer uma garrafa de vinho, jeropiga, queijo, presunto, petiscos regionais e sobremesas, tudo isso ajudará a compor a mesa.

É uma boa oportunidade para os que ainda não conhecem a casa, e para os outros é sempre bom regressar onde nos recebem bem.

Solicita-se a quem tenha uma concertina ou uma viola, que traga para animar o ambiente festivo. Desafia um amigo e venham juntos!

Para os organizadores poderem adquirir os géneros na 6ª Feira, agradecemos o favor de confirmação das presenças até dia 14 de Novembro (5ª F --22h) ou sendo pela Internet até às 24h. Contacto: António Pinto: 214 575 118 ou 963 987 686pintolivia@sapo.pt.

Para os que têm a net como elo de ligação, O BLOG Sabor da Beira, dará todo o apoio a esta iniciativa, o que a organização agradece. A esses apelamos a que se inscrevam aqui no Blog… ou no Facebook.

Esperamos por vós e enviamos saudações verbitas.


Os Delegados da Zona Sul
Pinto, Vicente e Messias Gomes

Organização: AAVD - Delegação da Zona Sul
Data: 16 de Novembro de 2013, a partir das 15h00
Local: Rua S. Tomás de Aquino, 15, 1600-203 Lisboa
tel: 217 220 200


 presenças:

  1. Aníbal Marques
  2. Antº CASIMIRO Barata e Leonor
  3. Antº Manuel Marcos
  4. Antº Vicente Almeida e Luísa
  5. António Ferraz de Moura
  6. António Lobo da Silva
  7. António Monsanto Registo
  8. António Pinto e Olívia
  9. António Rosinha e Maria José
  10. Apolinário Mendes e Maria
  11. Artur Santos
  12. Daniel Reis
  13. Eduardo Rego
  14. Fernando Carvalho e amigo
  15. Francisco C Matos e Isabel
  16. Francisco Jerónimo
  17. Heitor Gomes Ribeiro
  18. Henrique Nunes
  19. João Carlos Balão
  20. João Geirinhas e esposa
  21. Joaquim Bernardo Corte (parente)
  22. Joaquim Portas
  23. José Afonso Lourenço
  24. José Antº Delgado
  25. José Magalhães e Guiomar
  26. José Man. Portas
  27. José Miguel Teodoro
  28. Manuel Antão
  29. Messias+Natividade e filho+nora+neto
  30. Nicolau Marques
  31. Óscar Mota e 2 filhos
  32. Ricardo Figueira
  33. Vítor Baptista
  34. Pe. António Lopes
  35. Pe. Manuel Meneses

TOTAL 50 pessoas: 33 AA, 9 esposas, 6 familiares/amigos e 2 Padres.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Encontro Anual dos Antigos Alunos do Verbo Divino


Tortosendo
26/10/2013

O dia amanheceu muito cinzento, mas o sol foi rompendo até se mostrar na sua plenitude. Os aderentes foram chegando. Os mais madrugadores, logo a partir das 10h30, vão-se cumprimentando e pondo a conversa em dia. Outros, vindos de mais longe ou com receio da manhã cinzenta, chegaram já próximo do meio-dia.
Após a missa, procedeu-se à tradicional fotografia de grupo na escadaria da capela, seguindo de imediato para o repasto que nos aguardava.

Terminada a refeição, e passado o testemunho para a nova Comissão, dirigimo-nos para a sala ao lado, onde se tomou café e outras bebidas inspiradoras, dando início à tarde musical muito variada, quer quanto aos estilos musicais, quer aos intervenientes, sendo de destacar o Maurício, acompanhado pela Rita e a Márcia, que já haviam participado na missa, tal como o Tiago Silva, não esquecendo o solo de Manuel Santos.
A meio da tarde, o cheiro aos belos grelhados atraíram as pessoas para o pátio. A par das carnes grelhadas, veio a castanha assada regada com a bela jeropiga do Adérito e do Bugalheiro.
O convívio prolongou-se para lá do cair da noite, com música, alegria e boa disposição.
No próximo ano, a par de todas as boas razões que nos têm levado a estes nossos Encontros, junta-se uma outra que, certamente, nos levará a participar em massa no próximo ano: o quinquagésimo aniversário da ordenação do P.e Jerónimo.

Até lá...
mais fotos aqui

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A Pedra Pequena

A apresentação do livro do Luís Cerejo foi um bom momento de amizade e cultura. Juntaram-se os novos amigos aos amigos mais antigos, para falar de um livro sobre a amizade.
Falou-se de livros, da cidade, dos problemas da vida, das alegrias e tristezas que fazem a vida dos homens. E leram-se trechos de Pedra Pequena, uma ideia que nasceu num concerto de Pablo Ibanez, em Almada.

Dias depois, no jantar dos antigos alunos da SVD a viver em Castelo Branco, o autor partilhou-o com mais amigos. E vai continuar…





j teodoro p

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

ENCONTRO do TORTOSENDO 2013


Aproxima-se a data do Encontro anual no Seminário do Tortosendo, no último sábado de outubro (dia 26).
Apela-se à adesão a esta tradicional actividade, que já criou raízes nos costumes dos beirões e outros (ex-)verbitas.

Será um dia de reencontro de amigos e antigos colegas do seminário.
O programa será semelhante ao de anos anteriores.


Podemos contar contigo?

Faz a tua inscrição até 21de Outubro (2ª Feira) para:
     Adérito Santos - 966759283
André Gonçalves - 965527435 / ango@netvisao.pt
António Melo - 963048813 / melofam@gmail.com
Tiago Silva - 964381831
                                                 
          PROGRAMA:
10h30 - Receção
12h00 - Missa
12h45 - Foto de grupo
13h00 - Almoço

Durante a tarde: convívio com lanche e muita música!

A Comissão Organizadora

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

7 semanas em África*

O Pe José Antunes regressou de África no dia 18, após sete semanas de missão e de trabalho intensivo em Visita Geral às comunidades SVD do Congo e do Chade.

"A Visita Geral é uma ocasião para conhecer o trabalho missionário no terreno, encorajar os nossos missionários, escutar a voz do povo, conhecer as suas dificuldades, para termos uma visão mais objectiva da realidade. Em Roma, muitas vezes temos de tomar  decisões sobre as nossas comunidades e os nossos trabalhos. As Visitas Gerais que, de seis em seis anos, se fazem a todas as províncias SVD são um dos meios mais apropriados para conhecer a realidade da nossa Congregação e das pessoas com quem trabalhamos.”

Estes são alguns apontamentos de viagem do Pe José Antunes que aqui partilhamos com todos os amigos.



CONGO-01: Foto junto ao rio Congo, com dois verbitas congoleses; apesar de estarmos na estação seca, o rio é enorme e poderoso. Missa na igreja de Notre Dame d’Afrique. A equipa do «Verbum Bible», uma instituição SVD para a divulgação da Bíblia em línguas africanas.



 

CONGO-02: Fotos na quinta de Bibwa, um terreno que a SVD está a começar a explorar nos arredores da capital. Numa das fotos, estão a preparar o almoço para todos nós.



 


CONGO–03: Algumas fotos no interior do Congo (Bandundu e Beno). Cruzando o rio Kwilo. À nossa espera na outra margem.

 

CONGO-4: Estrada Bagata-Kikwit;  grotto de Nossa Senhora; Assembleia Provincial em Ngondi;

 
 


CHADE-1: Fotos de: igreja de S. Arnaldo Janssen, em Laramanaye; com o P. Frederic Koubi nos campos onde a paróquia cultiva milho, arroz e feijão. O P. Frederic é togolês, mas  fez a teologia em Lisboa; uma estrada na paróquia SVD de Boro.  

 
 


CHADE–02: Os sete missionários SVD no Chade;  reunião com o Conselho Pastoral da paróquia de Boro;  esperando pelo almoço... e almoçando na paróquia de Boro.  Celebração eucarística.

*Com a participação do Pe. José Antunes, a quem aproveitamos para enviar o nosso reconhecimento.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Pedra Pequena

Sexta-feira, 11 de outubro
O nosso colega e amigo Luís Cerejo está de parabéns! Concluiu o seu segundo livro, não de contos, como o anterior, mas um romance feito de muitas histórias. O livro chama-se Pedra Pequena e ele explica no Prefácio:
  
O título “Pedra Pequena” corresponde a uma expressão que existe em variadíssimas Línguas e Culturas e foi-me inspirado por uma canção de Paco Ibanez que explica que uma “Pedra Pequena” é a pedra que não servirá para grande coisa. Talvez possa vir a ser utilizada, eventualmente, num muro vulgar ou numa estrada.


   “Pedra Pequena” nunca servirá para esculpir uma coluna, para portal de uma igreja, pilar de um palácio ou ameia de um castelo.
   “Pedra Pequena” é como a Vida… uma tragédia e uma comédia gregas em simultâneo.
   “Pedra Pequena” não é, afinal, Castelo Branco.
   “Pedra Pequena” somos todos nós.

O Luís Cerejo deu-me a honra de apresentar o seu livro e eu, logo no início, escrevo sobre o nosso passado comum, onde ganhámos o gosto, um vício bom, pelos livros:
   Conhecemo-nos desde o longínquo outono de 1968, quando, ainda miúdos, ingressámos no Seminário do Tortosendo, onde fomos colegas, da mesma turma, durante cinco anos.
   Entre aulas matinais, tardes de estudo, entrecortadas com futeboladas, e orações de manhã à noite, havia um momento de silêncio e leitura livre às 21 horas, imediatamente antes de deitar. Para esse momento, e outros clandestinos nas horas de estudo, fornecíamo-nos na Biblioteca, que ficava logo à direita de quem entrasse naquele enorme casarão.
   Havia um cavaleiro com uma espingarda de três tiros, num cavalo da cor da noite, que voava como o vento sobre as areias do deserto, se o dono lhe assobiasse entre as orelhas. E o Corsário Negro, herói vingador dos irmãos, o Corsário Vermelho e o Corsário Verde, sempre vitorioso contra os governadores das colónias e os navios que sulcavam o mar das Caraíbas. E também o Sandokan… E ainda os índios Apaches, nas pradarias da América do Norte, guiados pelo grande espírito Winnetou que falava ao grande chefe Manitou através da montanha sagrada. Quanta imaginação Emílio Salgari e Karl May semearam nas nossas mentes!
   Mas não foi pelos livros que soubemos daquela outra montanha sagrada, o Monte Sinai, onde Javé falou a Moisés e lhe entregou a Lei das Doze Tábuas. Foi no cinema, às segundas de tarde, projetado no refeitório, arrumado para sala de espetáculos. Ali, no ecrã, nem precisávamos de imaginar, era tudo real. “Os Dez Mandamentos”, “A Bíblia”, filmes de índios, exércitos e cowboys. Um mundo tão grande!
A apresentação do livro realiza-se no dia 11 de outubro, a próxima sexta-feira, pelas 18 horas, no auditório da Biblioteca Municipal de Castelo Branco. É uma edição de autor, como o anterior.
As personagens principais do livro são três amigos que se encontram diariamente e partilham as pequenas alegrias e misérias da vida. Vamos juntar muitos amigos e saborear com o Cerejo a festa da vida!


José Teodoro Prata

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Nome de guerra: JESUS



Os últimos tempos dão-nos muito que pensar. Dou comigo a fazer o balanço daqueles anos em que julgávamos que podíamos construir um futuro novo. E porque tenho a salutar capacidade de me rir de mim próprio, quero partilhar convosco uma saborosa história que se passou comigo, naqueles tempos.
Saído do Seminário em pleno Verão Quente, vinha imbuído da social-democracia que em Portugal tanto se podia chamar PPD como PS. Mas o meu pai dizia que devemos estar sempre do lado do trabalhador e eu não via isso nestes partidos. Andei baralhado, por uns tempos, mas um dia vi na televisão um comício da UDP e decidi-me. Nas nossas Festas de Verão, em finais de setembro, já éramos um grupinho e acabámos por conhecer um casal dos Borregos que tinha vindo de Lisboa saber como era o Portugal profundo dos seus pais. Levaram o nosso contacto e meses depois já eu insultava o grupo de agricultores que, ciosos da propriedade privada, boicotaram uma sessão de esclarecimento sobre a criação de uma cooperativa agrícola em terras do Visconde de Tinalhas, dinamizada por um nosso camarada engenheiro agrónomo. Livrei-me de uma carga de porrada por ser filho de quem era, soube anos depois.
Um dos pontos altos da minha atividade política foi a campanha eleitoral de Otelo à Presidência da República, em 1976, já na fase mais cinzenta da ressaca da revolução. A minha terra teve um dos maiores GDUPs da região. Após as eleições, a polícia andou pelas aldeias a recolher os nomes de todos os apoiantes do Otelo, numa ação à escala nacional. Ter sido integrado nessa lista pidesca é para mim uma grande honra, ainda mais sabendo ao estado a que esses senhores do 25 de Novembro nos trouxeram (e mesmo discordando na altura e agora, de tantas e tantas coisas que a esquerda revolucionária pensava e fez).
No final do ano, retomei os estudos, em Castelo Branco. Fui imediatamente integrado na estrutura local da UDP. Depois contaram-me um segredo: a UDP não era tudo, o tudo era o PCP(R). Fiquei baralhado e ainda mais quando soube que esse partido era clandestino. Porque sim.
O meu batismo fez-se em reunião noturna, numa aldeia dos arredores da cidade. A célula era formada por dois professores, dois estudantes e um pastor. Comigo, ficámos três estudantes. Um partido clandestino exigia um nome clandestino, como é lógico. Perguntaram-me que nome queria adotar e eu fiquei pensativo e respondi: JESUS. Riso geral. O camarada responsável da célula, formado na grande escola da cintura industrial de Lisboa, sabia que não se podia brincar numa reunião e por isso pediu um intervalo. Então todos nos pudemos rir às gargalhadas. “Imaginem a reunião do Comité Central: Camaradas, temos um novo camarada na Região Outubro: JESUS.” Retomámos os trabalhos e foi-me sugerido escolher outro nome, mas bloqueei. Que outro nome melhor para designar alguém que trabalhava em prol dos outros? Foi-me sugerido Paulo, pois São Paulo fora importante nos primórdios da Igreja. Aceitei e penso que fiquei bem servido.
Tive sempre muitas dúvidas, como seja aceitar a ditadura do proletariado, eu que aspirava a uma sociedade genuinamente democrática. Mas conheci a vida dura e solitária dos pastores, a lutas dos professores na formação do seu sindicato, fiz trabalho académico na minha escola e trabalho cultural na minha terra, acompanhei as tentativas das minhas gentes para construir uma vida comunitária melhor, fui a um congresso, participei em manifestações… Um dia pintei um mural diante da casa de uma colega da escola. De manhã ela protestou pela paisagem que eu lhe impusera ao acordar. Eu neguei, mas ela apontou-me para as sandálias, salpicadas de tinta, como um arco-íris.
Depois vieram as divergências internas sobre as alianças à esquerda, problema ainda não resolvido e que é um dos responsáveis pelo estado atual do país, pela inexistência de uma alternativa ao presente liberalismo. E as falhas na democracia interna, no chamado centralismo democrático, bom e eficiente quando é democrático, completamente torcidário se alguém de cima quer desrespeitar os direitos das estruturas inferiores. (Na verdade, o centralismo democrático não é muito diferente do regime de organização interna da Igreja Católica!)
Por isso implodimos totalmente o PCP(R) e parcialmente a UDP. Em jeito de balanço, penso que nem uma gota de água fui no grande mar da nossa revolução. Fiz bons amigos, alguns do maiores até hoje. Mas havia pouca preparação e demasiada generosidade e impulsividade. E muito sectarismo entre todos os que eram diferentes, vício que vinha da clandestinidade do antes 25 de Abril e que continua bem vivo à esquerda, para gáudio da direita, muito mais pragmática e calculista.

Entre os crimes do cónego Melo e seus pares, no Verão Quente de 75, (mataram o meu camarada Pe. Max) e os crimes das FP 25, nos anos oitenta, houve muita gente simples, que fez coisas simples, de um e do outro lado da barricada, na esperança de melhorar a sua vida e a dos outros. E conseguiu, pois nunca os portugueses viveram como nas últimas décadas (e ninguém me queira convencer de que foi um crime, os mais humildes também têm direito à dignidade!). Mas muitos filhos da democracia aproveitaram-na apenas em seu benefício e alguns querem empobrecer-nos a todos, apenas para agradar ao grande capital mundial e daí tirar proveito pessoal. Há cerca de dois, três anos, um dos homens mais ricos dos EUA dizia que se estava a travar uma guerra entre o capital e o trabalho e que o capital estava claramente a vencer. Se ele o disse, quem somos nós para duvidar? Aliás, já estamos a senti-lo na pele.

sábado, 8 de junho de 2013

Mas que bela caldeirada aviada em Távola Redonda!

Daniel Reis

Annuntio vobis amici mei que estou prestes a decair na prática de uma razoável inutilidade.  O que não é bonito, devem presumir, para um senhor da minha idade e do meu estatuto, cá no bairro social dos arredores da grande cidade. a coisaté poderia ser considerada mais grave, se avaliássemos apenas pelos seus  dois ângulos de base. O primeiro é que, sendo tal acção desprovida de utilidade visível (ou configurando apenas uma utilidade residual), não teria verdadeira justificação eu envolver-me, assim, nela. O segundo é ainda mais forte e contundente e decorre, directamente, do meu estado e predisposição actuais. Ou seja: continuando firmemente agarrado ao tal programa político e filosófico de vida, que me inibe de fazer, sequer, a ponta de um corno, é óbvio que me ficaria muito mal, por contraditório, dispender esforços físicos(isto de dar ao dedo tem que se lhe diga…) e exigências intelectuais (ou não sabiam que pensar, cansa?) na prática efectiva de uma inutilidade.

«Mas que inutilidade é essa, de facto, se tanto te atrai e te põe à beira da cedência?» - perguntarão os meus amigos, que ainda sigam o fluxo deste arrazoado. «E que conversa é essa, ainda por cima embrulhada em filosofia barata, em vez de desembuchares já?», dirão, porventura mais irritados, outros já menos amigos, a esta hora.

Pois é. Como algum desses meus intrigados amigos deve chamar-se Ricardo, Luis GarciaXico Barroso, NicolauA. Monsanto RegistoFernando Carvalho, Artur Barata ou Vitor Baptista, o facto é que eu me sinto intimado a dar-lhes de imediato uma justificação. E que, no mínimo, seja plausível, pois ninguém deste clã vai em cantigas nem é facil de enganar.

Mas antes tenho de também eu perguntar-lhes se ainda se lembrade uma certa caldeirada, bem servidabem aviada e ainda mais bem enfardada, há justamente uma semana, à volta de uma certa Távola Redonda? Não, não foi nas terras do Rei Artur, essa distante Bretanha de nevoeiros, duendes e lendas, mas sim na Caparica ali à mão, de mar chão e vistas largas, para lá do pôr do sol do entardecer melancólico. É que eu já mal me lembrava… ou fingia que me esquecera, para escapar ao compromisso assumido com o clã, no sentido de aviar uma prosa de complemento à reportagem do repasto, neste nosso bem amado ponto de encontro virtual.

O problema é que, passado o fim de semana -- um longo sábado e um pachorrento domingo -- na posição horizontal do meu sofá principal, a ver bola, muita bola (até a brasileira serve, agora que a portuguesa se saldou por um sétimo lugar para uns e um triplo êxito para outros, obtido nos descontos, como bem sabem…) cheguei a segunda-feira de caneta afiada e… vamos a isto que se faz tarde e o Vítor já anda por aí a dizer que eu prometo escrever e, depois, nicles.

Nesse interim, abro o Sabor da Beira e, no link ‘Jantar tertúlia’, que vejo eu? Nada mais, nada menos que um bacanal de fotos, uma dúzia para aí delas, com pôr do sol e tudo, mesa farta e caldeirada a quase saltar do prato, de tão real, tão lindamente fotografada pelo mais que emérito Vítor Batista! E, aí, desabei absolutamente, do alto da minha prosápia de repórter do paleio (ou seja, do palavreado) para exclamar: ‘Oh quão inútil é a tarefa a que te comprometeste e que seria a de embrulhar as fotos do Vítor num laçarote de palavras!’.

Se havia coisa que elas dispensavam, era exactamente o embrulho, pois brilhavam por si próprias. E o bom do repórter fotográfico (que, ainda por cima, faz o boneco e enfia-o logo no blog…) até lhe acrescentou logo legendas que dispensavam qualquer outro aditamento. Por tudo isso, admiti logo desistência. Depois, até o «mail» me empurrou para a nega, já que esteve três ou quatro dias supenso, para travar um hipotético ataque viral, não sei de quem. Mas chegada a sexta-feira, uma exacta semana depois do ataque dos nove cavaleiros esfomeados à Távola Redonda da Caparica, repensei o caso e, enquanto o Cristiano Ronaldo se esfalfava na tentativa de marcar um golo á Rússia, eu propus-me mesmo avançar na prática desta razoável inutilidade, ainda que para isso tivesse também de me esfalfar.
E aqui me têm pois, para concluir que, se uma foto vale por mil palavras, como me ensinaram lá pelos jornais que frequentei, era-me materialmente impossível acompanhar o ritmo do reporter encartado do Sabor da Beira, um tal de Vítor de Cebola, não sei se conhecem.

Não me retiro porém, pelo burladero, sem antes anotar duas ou três coisas que me parecem relevantes e que remanescem da referida jantarada na Costa da Caparica.

A primeira é que fomos comer ao Barbas, sob recomendação do Fernando Carvalho, que de hotelaria e comes e bebes não pede meças a ninguém. E, como é óbvio, eu lagarto empedernido franzi o sobrolho e perguntei se não havia nada melhor que a casa desse lampião de primeira fila. Porém, face ao aparato das iguarias, logo coube fazer mea culpao cenário da coisa resplandescia, entradas a dar com um pau e todas magníficas (só as não arrolo para não despertar o horrível sentimento de inveja, a quem não foi…). E o Barbas, ele próprio, veio confraternizar à mesa connosco, provando uma vez mais ser muito mais simpático do que, porventura o pintem. E em especial com os lagartões do grupo, que eramos poucos, mas bons, como já deveriam saber das lides indígenas da bola.

A segunda é que sendo nós menos que os esperados, em vez da habitual mesa rectangular, pudemos abancar numa belíssima mesa redonda e assim falarmos face a face, sem carecer de gritarias, alongando mais facilmente o convívio noite fora. Se fossemos 12, a invocação da Távola Redonda viria de imediato à baila e o pobre reporter, à míngua de imaginação, até era capaz de lhes chamar cavaleiros. Mas lá porque éramos só noverevolto-me eu agora, não se deixe de insistir na Távola Redonda. Concedo não falar mais de cavaleiros, mas não me proibo de nomear o Xico Barroso como o Lançarote do grupo. Ou Lancelote, se ele preferir.

A quarta nota é para lhes garantir, prezados amigos meus, que aquela caldeirada de peixe – à base de tamboril (e as ovas do dito, que maravilha!), safio e raia -- era do melhor que já me passou pelo goto. Tão boa que, prevenidamente, lá arrematei uma dose dupla para trazer para casa. E, sabem que mais? Além de barata, cumpriu a sua função no dia seguinte, com dignidade e galhardia. Aliás, o Barbas fez um preço mais calhado a sportinguistas falidos e em baixa total de crédito, do que a impantes benfiquistas com os mui falados sucessos da época ainda a reluzir.

Por fim, isto é mesmo imprescindível dizer-se, é que só tarde percebi porque razão, em casa de lampião, se podia comer uma caldeirada daquelas. É que o Chefe, o grande Chefe Virgílio, é do Sporting! Como eu e o Ricardo bem pudemos atestar ‘in loco’ e o Vítor também registou para a posteridade, entre a dúzia de fotos da coisa que tornaram absolutamente inútil o arrazoado que ora, prestes, vouterminar. A propósito: vou nas 1.200 palavras, o que nem para foto e meia do Vítor dá. Uma inutilidade, de facto, tanta prosa. Sorry.

Beijinhos a quem não participou nesta nossa tertúlia de Maio (mês de 31 dias, como sabem), na intenção de que se preparem para a próxima que, segundo os habituais organizadores (Lancelote e seus pagens) será igualmentede arromba.