quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Abílio, o sábio



José Teodoro Prata

A foto é dos finalistas de Teologia de 1950, na Guarda. Veio ter comigo, na sequência de um trabalho que fiz sobre o antigo pároco de S. Vicente da Beira, o Pe. António Branco.

Ao passar os olhos pelos finalistas, reparei numa cara conhecida, na fila de cima, o segundo a contar da direita.

É o nosso mestre de Latim e Grego, o professor Abílio, pessoa extraordinário em vários domínios.

Homem baixo e magro, dele se contava que, já padre ou à beira da ordenação, se apaixonara por uma espanhola, mais alta que ele, e abandonara tudo para a seguir. Decisão de homem íntegro, como depois o conhecemos, numa época em que a sociedade tolerava aos párocos uma vida afectiva de duplicidade: castidade na Igreja e amantes lá fora.

Depois espantava-nos com a sua indumentária: dois casacos (casaco e sobretudo) e dois sapatos (sapatos e galochas). Coisas extraordinárias para mim, que durante anos usara os sapatos do meu pai com solas novas de pneu que o Mudo da minha terra lhe deitara e que tantos estragos fizeram, entre os colegas, nos meus primeiros anos de seminarista.

Não me recordo se ele também foi meu professor de Português, no antigo 5.º ano, ou se esta história de passou nas aulas de Latim, já no secundário. Ao falar-nos de Os Lusíadas, transcendia-se completamente e, de forma exaltada, a bater o pé, indignava-se por alguns eruditos acusarem Camões de ter plagiado o poeta Virgílio e a sua Eneida. E jurava, esticando-se todo: “Se ele copiou a Eneida, escreveu um livro muito melhor!”

Sei que alguns dos meus colegas de Língua Portuguesa se passam quando leccionam Os Lusíadas, mas o Doutor Abílio transpirava de exaltação patriótica e imensa sabedoria, como percebi bem mais tarde. Indirectamente, ele ensinava-nos a essência do Renascimento: partir dos antigos, para os superar.
Ele foi o único professor doutorado que tive, durante muitos anos, mesmo mais tarde, no ensino superior. Cátedra da sabedoria bem merecida, pela forma como encarou e neutralizou uma contestação dos seus alunos, em 1974.

O 25 de Abril ocorrera há poucas semanas e, dentro do seminário, nós também vivíamos o entusiasmo da revolução, como era natural numa vila de longa tradição de lutas operárias. Pelos meados de Maio, o Governo Provisório acabou com as aulas aos sábados. Ora, nós tínhamos aulas de Grego ao sábado, pois fazíamos esta disciplina num só ano. Ficámos na expectativa se o Doutor Abílio viria ou não. Mas, à hora certa, o táxi da Covilhã apareceu na curva e estacionou em frente à sala de professores. Frustrados, viemos à janela, com assobios e apupos, mas retirámos, antes que ele nos visse.

Sentámo-nos nos nossos lugares e aguardámos. Ele chegou e disse: “Quando saí do táxi, ouvi alunos a protestar, mas tenho a certeza de que não foi nenhum aluno meu!” Desarmou-nos completamente. Ingenuidade ou sabedoria? Nalguns seres de excepção, elas são uma só.

Nota: Agradeço aos antigos e novos amigos tantos convites para o facebook, mas, definitivamente, esse não é o meu mundo.

Resposta à pergunta do G57

“Age, prega, representa e tudo faz como BOM PADRE. Porque não o é?”.

Como a colunita Diga o que (lhe) sabe bem é um bocado estreita vou pedir ao Vitor que me deixe responder no espaço nobre. Aqui vai a resposta muito limitada como não poderia deixar de ser, mas nem por isso menos honesta.

Entrei na SVD para ser irmão missionário e é isso que sou. Sou-o com alegria e gozo! É certo que a minha caminhada na SVD não foi muito certinha, mas foi a que foi e se algumas coisas há a lamentar isso não vem agora ao caso. Entrei e mandaram-me repetir a 4ª classe, o que representou uma certa frustração, mas fez-se. Iniciei o liceu no CEF e fui fazer os exames ao Liceu Nacional de Leiria. Com melhor ou pior aproveitamento as coisas foram andando... Terminado o liceu e o noviciado fui mandado para Lisboa estudar Teologia na UCP (houve antes uma não ida para o Brasil, mas deixemo-la de lado). Terminado o curso era tempo de fazer opções, corrigir a guinada clerical e voltar às origens. E foi o que fiz... enquanto alguns irmãos fazem a sua formação profissional e depois pedem para ser ordenados, eu (desculpem a originalidade) fiz o contrário. Depois da formação clerical específica voltei para as bases (o que para alguns foi uma espécie de despromoção, para mim não foi!), o meu lugar natural. E aqui estou... porque o fiz? para além de outras, que não vou mencionar, eu era/sou muito escrupuloso em relação à coerência necessária na vida sacerdotal (penso estar aí uma das causas da falta de vocações e da falta de credibilidade da Igreja nestes tempos, mas não interessa aprofundar isso aqui).

Aquilo que faço não o faço como “bom padre”, que não sou nem quero ser, mas como cristão, ao qual não tenho coragem de acrescentar o “bom”. Nesta linha tenho óptimos antepassados, a começar pelo próprio Cristo, que não foi padre, e por São Francisco de Assis. Foram simples leigos (um judeu e o outro cristão). Na minha província eu sou o único “povo”, visto que não pertenço nem ao clero nem à nobreza. E sou-o com todo o orgulho do mundo. E, socorrendo-me do velho e sábio princípio da subsidariedade, diria que quando dermos espaço real aos leigos nesta igreja, ela será mais humana/mais divina, mais alegre, mais gozosa, mais compassiva, misericordiosa e crística. Até lá... só nos resta caminhar, ainda que devagarinho. Jj-a

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Os amigos encontram-se em Tortosendo!...


(* desde 1986) 


...30 DE OUTUBRO DE 2010
SEMINÁRIO DO VERBO DIVINO DO TORTOSENDO
PROGRAMA: 
11 h -Encontro nas instalações do SVD – TORTOSENDO
12 h - Inicio da Eucaristia, com a participação dos nossos colegas, nos cânticos.
13 h – Almoço: Porco no Espeto c/Arroz de Feijão, seguido de café e digestivo.
(Inicio de tarde musical com guitarradas e concertinas do Minho e da Beira)
15 até às 17 horas, momento de lazer, com visita a uma exposição existente nas instalações, com equipamentos e recordações, desde o início da actividade no SVD – TORTOSENDO.
17 h – Concurso: "A melhor Jeropiga"(**), C/Magusto e carnes na brasa (BORREGO MEIMÃO)
** para concorrer cada participante deve levar garrafa de produção própria, não são admitidas Jeropigas compradas no comércio público (só privado)
(Continuação da animação musical até haver alento.)

TODOS OS ANTIGOS ALUNOS SÃO CONVIDADOS, POR ISSO SE CONHECES ALGUM QUE NÃO FOI AVISADO PASSA PALAVRA E MOTIVA-O PARA ESTAR PRESENTE.

É A MELHOR MANEIRA DE COMEMORAR OS 60 ANOS DO SVD EM PORTUGAL!!!
As presenças podem ser confirmadas para os seguintes contactos:
918738855- FERNANDO BAPTISTA
913100696- ZÉ EDUARDO
966652009- ZÉ HENRIQUES

919188156 - FERNANDO CARVALHO




INSCREVAM-SE NO FACEBOOK




Já agora, para quem ainda não conhece, veja o LUX MUNDI em formato pdf e o relato do encontro do ano passado aqui

ATÉ DIA 30 NO TORTOSENDO !!!

sábado, 25 de setembro de 2010

EDP vai pedir autorização para donativo voluntário na factura da luz - JN


E fazer desta ideia um projecto familiar?
Poupar 0,30€, entre toda a família? Por mês - cerca de 0,01€ por dia!!! ... Acham que é impossível?... "envolvendo", pais, filhos...  
...mesmo em tempos de crise, doar, pode ser uma poupança!


Quais são os ganhos previsíveis?
  • Poupanças muito superiores ao valor doado!!!!
  • Educar para a solidariedade;
  • Racionalizar recursos;
  • Educar para a sustentabilidade;
  • Protecção do meio ambiente;
  • Criar novos hábitos que geram poupanças efectivas;
  • SER SOLIDÁRIO!
Exemplos de comportamentos que geram poupança de energia:
  • Desligue a iluminação sempre que não precise;
  • Use a luz natural, de preferência;
  • Desligue a tv da sala quando vai jantar;
  • Veja (+) tv em família - ao invés de ser cada um "na sua!";
  • Utilize melhor as tarifas bi-horárias;
  • Não deixe a porta do frigorifico aberta;
  • Utilize as máquinas de lavar na capacidade máxima;
  • Desligue o computador todos os dias;
  • Não deixe impressoras ligadas quando não necessita de imprimir;
  • Não deixe os carregadores do telemóvel ligados à corrente sem telemóvel;
  • Utilize (escolha) aparelhos com máxima eficiência energética;
  • Durma mais!...
Ainda acha impossível ganhar mais do que aquilo que doa?


terça-feira, 21 de setembro de 2010

Faz bem partilhar

... fortalecer a amizade!

De facto, o amigo Colaço (que ainda não tenho o prazer de conhecer!... mas até parece que sim), prometeu e surpreendeu-nos. No animus60 publicou um artigo que é aquilo que se designa por "geminação". Já tinha assistido a isto entre cidades e vilas... mas entre blog's é a primeira vez!

Para lá da originalidade da forma, sobressai o teor do conteúdo que passo a replicar, na integra, como sugere o António Colaço:

ANIMUS AJUDA SABOR DA BEIRA E AAVD 
OU DE COMO OS EX SEMINARISTAS NÃO TÊM PÁTRIA
A história conta-se em três penadas e o que vai acontecer pode marcar as relações entre blogs, melhor, entre ex seminaristas de diversas proveniências como já aqui adiantamos, um destes dias.

Na conversa com um amigo recente, Paulo Pereira Lucas, lá chegamos aquela parte em que cada um conta por onde andou. No seu caso, os primeiros anos pela SVD-Sociedade do Verbo Divino, em Fátima.Estávamos no ano da graça de 1977.Aqui estão os nossos amigos:
FÁTIMA . 1977/1978 - O Paulo é o terceiro a contar da direita, na fila de trás.

Vai daí, o nosso amigo tomou conhecimento da existência deste blog. Conversa para aqui, conversa para ali, percebemos que não estava a par do que se passava com os seus ex-colegas, mas desde a primeira hora muito interessado em acompanhar a nossa dinâmica.
FATIMA 1978 -  A peça, "Os nossos pais pecaram".Presença d Pe Soares, encenador.Paulo é o 2º a contar da direita, primeira fila
  
Tentámos, então, através de dois sites dos ex-alunos do Verbo Divino, oSabor da Beira e o AAVD solicitar que alguém nos enviasse fotos onde estivesse este nosso amigo.Queríamos fazer-lhe uma surpresa. Não foi fácil a tarefa. Mas não desistimos.

FÁTIMA,1982 - Conto de Natal. Com o Pe Soares.Paulo é o 4º a contar da esquerda!

Eis, senão quando, face às dificuldades alcançadas, não obstante a boa vontade de dois amigos do Sabor da Beira, Pinto e Vítor, obrigado, e uma vez denunciados os nossos propósitos ao próprio Paulo, ele mesmo se encarregou de subir ao sótão e facultar-nos as imagens que acabamos de publicar!

Ou seja, daqui lançamos o apelo aos nossos amigos dos dois blogs em causa, para que publiquem esta notícia e assim o Paulo possa reencontrar os seus antigos colegas.



Este é o Paulo Lucas, na actualidade, e que, não obstante ocupar um alto cargo na Segurança deste país, não quer deixar de sentir seguro entre os seus amigos de seminário e não só.



Numa de toma lá, dá cá, publicamos o belíssimo texto - com sublinhados nossos - de JJAmaro, com a devida vénia, e aconselhamos os nossos amigos da animus a passarem por lá!!!
Um destes dias, na Valenciana, vamos traduzir em convívio entre os amigos da SVD, diocesanos, capuchinhos e outros, de que passados se pode fazer o hoje dos dias!
Obrigado, Paulo , pela partilha e vontade de conviver!!!
antónio colaço

domingo, 19 de setembro de 2010

Faz-me bem a felicidade dos outros


Ela é mesmo uma exigência da minha própria. Ela torna-me mais liberto, positivo, leve, sereno, paciente e sensível.
Há dias encontrei o Tiago, meu antigo aluno, que sofre de uma doença crónica. Encontrei-o bem melhor do que de outras vezes. Fez-me bem vê-lo assim. Com  ar e ânimo diferentes, acompanhados de brilho nos olhos.
Mas felicidade é o quê? As vezes que nos perguntamos são em igual número ao das respostas que não encontramos. Atrevo-me a trazer uma comparação para ajudar. Felicidade é como fazer cócegas nos pés e rir com o gozo.
A angústia e a dor dos outros também me angustia e me faz sofrer.
Assim: ajudemos, pelo menos, uma pessoa a ser mais feliz. E isso far-nos-á bem e pessoas melhores. Afastemos a ideia peregrina de podermos ajudar todos os que precisam, pois ela é daninha para o nosso equilíbrio e tolhe-nos os movimentos físicos e as operações mentais. Acabando por se tornar contraproducente, pois muitas vezes acabamos por nos agarrar a ela para nos desculpabilizarmos do nosso “fare niente”.
O meu amigo, Cornélio Kila, um holandês de coração enorme, costumava dizer-me: “josé, deus não nos pede que façamos tudo, mas que façamos o que nos for possível (o facto de não podermos fazer tudo não nos dispensa, porém, de fazer a nossa parte, como alguns pensam) e deixemos também algo para os outros”.
Deixemos as lamúrias que nos envinagram a vida, abracemos as alegrias que vão surgindo e ajudemos outras a nascer... Jj-a

sábado, 11 de setembro de 2010

Deus, pão e ternura...


Gosto de deus! Porque não está à mão de semear, para o aburguesar e transformar num produto de consumo. E porque dá sentido à minha vida. Acredito que com outros não aconteça assim... mas, se com ele é difícil…o que seria sem ele? Com ele ainda vou entendendo, com o que isto possa significar, que vale a pena andar por aqui. Crer é, afinal, atirar-se porque alguém disse que valia a pena fazê-lo...
Gosto de pão! É saboroso como nenhum outro alimento. Dá-me prazer aos dias e às mãos que o amassam. Preparado e bem cozido, acompanhado de um copo de água fresca é um alimento que activa todos os sentidos: a visão, o ouvido, o gosto, o tacto e o olfacto. É uma experiência de plenitude: comer pão, só pão!
Gosto de ternura! E quem não gosta dum braço estendido, duma mão suave, dum abraço apertado, dum beijo leve e duma palavra elogiosa?
É disto que preciso(amos) na vida! E só disto: deus como sentido; o pão como alimento e a ternura como comunicação. Jj-a

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Céu de Castilla, la vieja

(Saludos cordiales para os leitores do SdB, os quais lembrei nestes dias castelhanos)

Nestes primeiros dias de setembro de 2010, levo os meus olhos cansados a percorrer os mil campos lisos e amarelados de secos, com intermitências verdes, desta Castilla vieja e desoladora. Olho o céu velho e os campos pejados  de monasterios, catedrales e iglesias enormes de altas e de tijolinhos minúsculos. Aqui tudo é grande, muito grande… enorme até! O céu, as planícies, os monumentos... e... Aqui, as estrelas brilham mais intensamente devido aos raios esguios e compridos, a cair dum céu grande e longínquo, com mais cinzentos do que azuis.
Lembro-me de poetas e frailes, de agricultores e pastores e do que teria sido a vida, há séculos, por estes descampados áridos e tragicamente silenciosos. Gosto de Castilla, gosto da pedra dos monumentos já gasta e esfarelada, de tão secular, e do vidro velho e partido das janelas. E até das plantas a crescer nas velhas telhas mouriscas. Por aqui as pessoas são expansivas e corteses... mas falam muito alto...
É uma lugar para se olhar o céu e pisar a terra... descalço! Jj-a