Na rua o frio corta que nem lâminas nesta tarde de 25 de dezembro de 2010. Lá em cima na torre, o relógio da basílica de Fátima martela as 15:30H. Atrás, num caminho de acesso ao santuário está caído um homem cuja idade deve rondar os sessenta anos.
Passou um grupito (3 ou 4 pessoas) pelo caminho, onde estava caído o homem, e fez de conta que não o viu e continuou a sua marcha em direcção à basílica, provavelmente para ir à missa das 16:00H.
A seguir, passaram mais duas pessoas pelo mesmo local. Disfarçadamente, olharam para um lado e para o outro e prosseguiram a marcha apressada que traziam, pois o frio apertava. Nada lhes despertou pelo menos a curiosidade: nem de ver quem era, como estava, e muito menos qualquer gesto de compaixão ou misericórdia.
Provavelmente é alguém que está bêbado, terão pensado. Vendo a situação, alguém teve compaixão e chamou um dos guardas do santuário, o qual se deve ter esquecido e acabou por nem sequer vir ver quem era e o que tinha: doença? Bebedeira? Indisposição?
Minutos depois, passa alguém que se sente incomodado com o que vê. Um homem caído à beira de um caminho, um frio de enregelar a alma e o povo vai passando, concentrado e sereno, como se nada fosse com ele. Indignado com tanta indiferença, aproxima-se chama pelo homem, mas não obtém resposta. Sozinho não tem condições de ajudar o homem... Resolve então recorrer à ajuda de um guarda do santuário. Este, ainda que um pouco contrariado, acompanha-o ao local onde se encontra o homem caído. Chama-se os bombeiros? Avisa-se a GNR? O que se faz? Consulta um outro colega. Este aconselha-o a que chame a GNR. Com o caso encaminhado, esse alguém prossegue o seu caminho e no regresso passa, novamente, pelo mesmo local para ver se o homem já tinha sido assistido ou não.
Que nada! Continuava ali caído no caminho, pois a GNR ainda não chegara. De seguida aparece, novamente, o guarda do santuário e segundos depois a GNR. Entretanto, o homem começa a dar sinais de voltar à razão. Abre os olhos, com dificuldade pede um cigarro e lume, mas ninguém tem lume... Chega-se à conclusão que ele está embriagado. Provavelmente com alguns copos de vodka a mais. A comunicação com ele é difícil, mas no meio de algumas frases meias sem nexo lá confessa ser ucraniano.
Lembrei-me, então, neste dia de Natal, da parábola do samaritano. Afinal, estamos todos muito mais perto do sacerdote e do levita do que do samaritano. Jj-a