sábado, 25 de dezembro de 2010

Como vão acreditar em nós?

Na rua o frio corta que nem lâminas nesta tarde de 25 de dezembro de 2010. Lá em cima na torre, o relógio da basílica de Fátima martela as 15:30H. Atrás, num caminho de acesso ao santuário está caído um homem cuja idade deve rondar os sessenta anos.
Passou um grupito (3 ou 4 pessoas) pelo caminho, onde estava caído o homem, e fez de conta que não o viu e continuou a sua marcha em direcção à basílica, provavelmente para ir à missa das 16:00H.
A seguir, passaram mais duas pessoas pelo mesmo local. Disfarçadamente, olharam para um lado e para o outro e prosseguiram a marcha apressada que traziam, pois o frio apertava. Nada lhes despertou pelo menos a curiosidade: nem de ver quem era, como estava, e muito menos qualquer gesto de compaixão ou misericórdia.
Provavelmente é alguém que está bêbado, terão pensado. Vendo a situação, alguém teve compaixão e chamou um dos guardas do santuário, o qual se deve ter esquecido e acabou por nem sequer vir ver quem era e o que tinha: doença? Bebedeira? Indisposição?
Minutos depois, passa alguém que se sente incomodado com o que vê. Um homem caído à beira de um caminho, um frio de enregelar a alma e o povo vai passando, concentrado e sereno, como se nada fosse com ele. Indignado com tanta indiferença, aproxima-se chama pelo homem, mas não obtém resposta. Sozinho não tem condições de ajudar o homem... Resolve então recorrer à ajuda de um guarda do santuário. Este, ainda que um pouco contrariado, acompanha-o ao local onde se encontra o homem caído. Chama-se os bombeiros? Avisa-se a GNR? O que se faz? Consulta um outro colega. Este aconselha-o a que chame a GNR. Com o caso encaminhado, esse alguém prossegue o seu caminho e no regresso passa, novamente, pelo mesmo local para ver se o homem já tinha sido assistido ou não.
Que nada! Continuava ali caído no caminho, pois a GNR ainda não chegara. De seguida aparece, novamente, o guarda do santuário e segundos depois a GNR. Entretanto, o homem começa a dar sinais de voltar à razão. Abre os olhos, com dificuldade pede um cigarro e lume, mas ninguém tem lume... Chega-se à conclusão que ele está embriagado. Provavelmente com alguns copos de vodka a mais. A comunicação com ele é difícil, mas no meio de algumas frases meias sem nexo lá confessa ser ucraniano.
Lembrei-me, então, neste dia de Natal, da parábola do samaritano. Afinal, estamos todos muito mais perto do sacerdote e do levita do que do samaritano. Jj-a

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

As prendas do Menino Jesus


José Teodoro
Um lume bem forte na casa escura e fria, mais a barriguinha cheia de filhoses e só faltava a fogueira e o presépio, para ter reunida toda a magia do Natal. A fogueira avistava-se lá ao fundo, na Praça, cone de fogo de onde subiam luzinhas. O presépio era na Igreja, nessa noite ou na missa do dia seguinte, quando fôssemos beijar o Menino Jesus.
As prendas do Menino Jesus não estavam ao mesmo nível: dois ou três rebuçados de papel transparente, uns tostões… uma pelintrice que não merecia esperanças e por isso nem chegava a ser o pesadelo do Natal. Nada que se comparasse ao ritual das filhoses, autêntica orgia de luz, calor e sabores!
Aposto que foi por isso que, anos depois, o Menino Jesus foi despedido. Comparar o tempo do Menino Jesus com o tempo do Pai Natal é dizer que a fome é igual à abundância. O Menino Jesus foi o pobretanas que desiludiu as crianças durante décadas, talvez séculos. A mesma promessa renovada cada ano e nada, pior, quase nada. Uma parvoíce, isto de acreditar em prendas de um bebé acabado de nascer num curral, filho de gente que nem posses teve para ficar numa hospedaria.
Os anos 60 foram os últimos do Menino Jesus e depois o velhinho das renas tomou conta da entrega dos presentes. Notaram-se logo melhorias no serviço e, na década de 80, o Pai Natal relegou o Menino Jesus para o mundo das histórias da Carochinha.
Talvez esteja a ser injusto com o Menino Jesus, ele que encheu de alegria um Natal da minha infância. Em 1967, o meu pai chegou da França carregado de prendas. Trabalhava nas obras para um patrão de Lyon e ele ofereceu prendas aos filhos de todos os operários. Ele não, o Menino Jesus, ou melhor, o Pai Natal, quase de certeza, pois a França era um país rico!
Certamente trazidas da longínqua Lapónia e entregues ao patrão do meu pai, as prendas chegaram à Tapada mesmo a tempo do Natal. Ficou o Menino Jesus com a fama, quase de certeza imerecida, pois ainda não nos chegara a notícia da existência do Pai Natal. Mas o proveito foi da pequenada lá dos altos.
Um boneco para a Eulália. De olhos claros e cabelo loiros espetados, a minha prima Santita viu nele parecenças com o Pe. Tomás e chamou-se Tomás. Eu recebi um comboio eléctrico. Linhas, locomotiva, carruagens, fios, tudo. Alguém explicou que os fios se ligavam a uma coisa chamada electricidade e o comboio andava sozinho. Ligar os fios só se fosse nos buracos da parede da quelha, onde eu e os meus primos passámos tantas horas, de joelhos na terra. Chão alisado e sem pedras, linhas unidas e o comboio não parava, sempre às voltas, pelas nossas mãos. Havia passageiros, mercadorias, nada faltava, nem a electricidade.
Por causa deste comboio e pelos presépios daqueles tempos, fico-me em cada Natal com as histórias da Carochinha, melhor dizendo, do Menino Jesus, pois nunca o traí com o Pai Natal.

Nota: E ainda não me esqueci de um célebre julgamento no Seminário do Tortosendo, onde fui lançado pelo alçapão dos infernos, por sentença do S. Nicolau, um outro nome deste Pai Natal. Não fossem os braços estendidos do grande Ventura e talvez não estivesse agora a contar-vos esta história.

domingo, 19 de dezembro de 2010

NATAL NO JARMELO

Nestas terras dos amores de D. Pedro e Dª Inês, o povo vive os sonhos de forma quase igual a todo o interior.

O Natal, ou melhor, o Natal de que me quero lembrar, é ainda o dos tempos em que as coisas aqui ainda eram fruto de muita inocência e portanto pureza.

Lembro com muita saudade os tempos em que, sendo pequeno, ansiava ser grande ... estes acontecimentos sociais, eram rituais que estavam vedados aos mais pequenos e às mulheres. O Natal era uma época de diversão em que os rapazes em grupo faziam a festa: ia-se nas noites frias - que os dias eram de trabalho - com carros de vacas ou de burros, aqui ou ali buscar uns cepos (quando miúdo lia nos livros oficiais da escola, que no Natal iam buscar o madeiro... fazia-me cá uma confusão!!! o que era isso do madeiro!? nós aqui chamávamos cepos - deve ler-se cêpos - e eram os restos dos carvalhos centenários que depois de cortados tinham que ser escavados e arrancados) e traziam também para a fogueira de Natal giestas e tojos - leia-se toijos - e vá lá, mais uns cepitos “roubados à última hora” a alguém que o tendo arrancado se esquecera de guardar.

Os rapazes, que noutros rituais já teriam percebido quem é que mandava, escolhiam o sítio para a fogueira, é que aqui também não era sempre nos adros das igrejas... não, aqui era umas vezes ao cimo do povo, outras ao fundo ou ao meio dependia de quem mandasse, que com alguma artimanha e uma desculpa de ocasião decidia onde era.

Nós, os garotos - éramos garotos até termos corpo para começar a ajudar nestas tarefas, ocasionalmente deixávamos de ser, e também sem mais voltávamos ao estatuto anterior - só com autorização dos pais poderíamos aproximar-nos; como os rapazes eram por vezes dados a exageros teríamos de ir acompanhados para que o vocabulário usado junto com o vinho e a jeropiga, não ferisse os nossos incautos ouvidos. O meu avô que em jovem era “jogador do panco e do ferro”, tornara-se um adversário de que os garotos fossem até à fogueira.

Da janela espreitávamos tentando perceber numa fria noite sem luz eléctrica quem eram e o que faziam ou diziam os que passavam ali a noite de 24 de Dezembro. Restava-nos a ilusão de que saídos da casa do avô - juntávamos lá a família nos momentos importantes - depois de tomar o chocolate com ovos preparado pela avó Rainha, irmos até nossa casa ver o que havia nos sapatos; eram sempre coisas tão bonitas! estavam carregadas de toda a ilusão! ainda que fosse um par de meias entendíamo-lo como se tivessem sido os chocolates do ano passado... receber coisas doces também significava continuar a ser garoto, mas receber umas meias ou outra peça de roupa já significava compreender o esforço dos adultos.

Na missa do dia de Natal, os miúdos da catequese, levávamos no ofertório a colecta em géneros e dinheiro - mais em feijão, maçãs ou laranjas - que oferecíamos para o “menino pobre”. Aí aprendemos que dentro do limite das nossas posses ainda havia quem tivesse menos que nós. Passados dias chegava o agradecimento pela voz do senhor padre da paróquia. Em cada aldeia, juntávamo-nos e íamos de porta em porta pedir para o “menino pobre” sendo que o grande brio, era ver quanto é que cada anexa oferecia, rivalizando em generosidade uns com os outros.

Mais tarde apareceram os tractores e as motosserras... desapareceram os rapazes: fazem-se cada vez menos estes rituais de Natal... este nosso interior está cada vez mais profundo.

Agostinho da Silva 
Jarmelo – Guarda

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Eu já não gosto do Natal...



não porque ele seja demasiado consumista
não porque ele seja demasiado pagão
não porque ele seja demasiado igual todos os anos
não porque ele seja um tempo em que só se pensa em prendas e cabazes
não porque ele seja um tempo de comer e beber
não porque ele seja um tempo de euforia e solidariedade pequena
não porque ele seja um tempo de boas-festas e mensagens
não porque ele seja uma data politicamente correcta

***

Não gosto dele...

porque continuamos a infantilizar o menino, apesar do menino ter crescido
porque ao olhar para o menino como há dois mil anos o menorizamos
porque o trocámos pelo pai-natal vermelhusco e as renas
porque não olhamos as pessoas nos olhos, mas nas mãos
porque sorrimos sem alegria, amparados num sorriso amarelo
porque só nesta época nos lembramos dos da margem
porque esquecemos que marginais e marginalizados também são filhos de deus
porque não nos orientamos pelos símbolos, mas pelos bolos
porque a estrela já não brilha
porque os reis magos estão gordos e anafados e os camelos esqueléticos
porque não nos parecemos com o menino
porque já não há missa do galo
porque os pastores já não cantam
porque os anjos fugiram para as alturas altas
porque não olhamos para o menino como adulto como devíamos
porque atravessamos os anos e não nos tornamos melhores
porque somos pouco coerentes com o que dizemos
porque aconselhamos aos outros aquilo que nos faz falta a nós
porque não queremos ver o invisível que o visível nos quer mostrar
porque nos contentamos com um formalismo atávico e estupidificante
porque renunciámos à caridade
porque renunciámos à misericórdia e à compaixão
porque nos interessamos pouco pela justiça
porque abolimos o musgo e as ovelhas e substituimos a majedoura por uma casa
porque o burro não zurra e a vaca não tuge nem muge
porque dizemos querer ser uma coisa e investimos noutra
porque não queremos olhar o espelho das nossas limitações e debilidades
porque nos dizemos cristãos e gostamos pouco de cristo
porque nos importamos pouco nem ser parecidos com ele
porque cada vez há menos belém e mais nova iorque
porque somos ...


Gostava que o Natal voltasse...

à simplicidade e clareza das obras de misericórdia
do dar de comer a quem tem fome
do dar de beber a quem tem sede
do vestir os nus
do dar pousada aos peregrinos
do assistir aos enfermos
do visitar os presos
do enterrar os mortos
do dar bom conselho
do ensinar os ignorantes
do corrigir os que erram
do consolar os tristes
do perdoar as injúrias
do sofrer com paciência as fraquezas do próximo
do rogar a deus por vivos e defuntos.
Jj-a

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

CORREI PASTORINHOS

Caros amigos
Não quero desestabilizar, nem, muito menos, contribuir para que os artigos sérios (ou textículos, como diz o José Amaro) continuem a aparecer e a ser alvo de muitos e interessantes comentários.
No entanto, há alguns dias trás, andava eu a remexer uns papéis antigos e descobri um texto adaptado à canção de Natal "Correi Pastorinhos" que, no início da década de 80, cantámos na Praça Prof. Santos Andrea - Lisboa, onde, então, vivia a comunidade verbita. Já não me lembro se a autoria foi partilhada ou se foi o nosso amigo José Maria Cardoso (hoje sacerdote verbita, em missão numa comunidade do Canadá) que foi o autor. Assim, para conhecimento, aqui deixo o texto:


1. O Pe. Jerónimo
É agora o Provincial
Tem muito falado
E ainda não está mal
Mas vamos lá ver
Se ele é capaz
De se aguentar
O triénio a falar.

2. A crise já chegou
À nossa Província
No orçamento se cortou
Apesar da pedincha
Com tal eficácia
Ainda nos chamam
P´ra gerir o país
E livrá-lo da desgraça.

3. Aceite o conselho
Que eu lhe vou dar
Se está aborrecido
Não sabe o tempo ocupar
Inscreva-se já
Na agência noticiosa
“Comunicados Américo”
E o tempo não chegará.

4. Correi pastorinhos
Correi à Ameixoeira
Que está lá uma casa
Azulejos e sementeira
Mas é intocável
Aquela preciosidade
Por isso continuamos
Engaiolados na cidade.

5. A nossa identidade
Quase ficou comprometida
Com mais uma compra
Nesta Terra Prometida
Temos poucas vocações
Mas a Bíblia está-nos na pele
Somos uma Província
Onde corre mais leite que mel.

6. Se tendes problemas
Com os vossos gaiatos
Não param quietos
Parecem macacos
Mandai-os pró Seminário
Do Tortosendo
E, oh! Que milagre
Uns cordeirinhos se vão fazendo.

7. O nosso Provincial
Com sua diplomacia
Levou os Pe. Scholtz e Haaz
A uma casa muito pia
O estádio da Luz
Viveu momentos sérios
Sem poder desabafar
Diante de tão altos clérigos.

8. A Rússia assustou-se
Com os palavrões
Falados em vernáculo
Por alguns sabichões
Era a 2.ª guerra mundial
Neste desafio
Milagre de Fátima
A Rússia perdeu o Pio.

9.O Pe. Manuel
De Angola nos visitou
P’ra coser uma pele
Uma hérnia que rebentou
Está-se a reabilitar
Num clima de ócio
E Angola vai ficar
Com um Pe. Capadócio.

10. Correi pastorinhos
Vamo-nos embora
Que isto está a aquecer
E podem-nos apertar a gola
Nós não temos medo
Mas devemos ser prudentes
Fechemos a boca
Antes que nos partam os dentes.

Para todos um abraço com os meus votos de um Santo e Feliz Natal.

Tó Rui Barata

sábado, 11 de dezembro de 2010

A ingratidão

 F. Barroso


Aqui que ninguém nos ouve, quero confessar-vos que se há coisas que mexem comigo, uma delas e talvez a mais grave é a ingratidão. E o mundo está cheio dela como bem sabeis. Por isso é que é estranho estar a falar-vos disto, mas é que já ando pelos cabelos de com tanto e-mail, tanto artigo e tanta declaração a dizer mal dos governantes em geral e deste Governo em particular.
Quero demarcar-me dessa gente aqui e agora. É por isso que me confesso e vos digo que os governantes pós revolução de Abril foram em geral e de longe os melhores governantes que este velho e pobre país já teve ao longo de toda a sua história, por isso lhes tiro daqui o chapéu.
Já há quem fale que bom foi o Salazar. Um homem poupado que mandou pôr dois contadores de luz em S. Bento para pagar, a expensas suas, a energia que gastava no andar que lhe servia de habitação. Bonito? Bonito. Tinha uma capoeira no quintal do palácio para ajudar na economia doméstica. Toda a gente tinha. Quem é que gostava de frango de aviário nessa altura? Encheu os cofres do Estado. É verdade, mas a maioria dos nossos pais andaram descalços até ir para a tropa e cheios de fome muitas vezes.
Se não me acreditam leiam A GUERRA DA MINA, do nosso Daniel Reis, sobre os mineiros da Panasqueira, onde retrata com mestria o viver dos pobres em Portugal, que era quase toda a gente.
A prosperidade das especiarias quantas vidas nos custou? Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal…quantos guerreiros, quantos marinheiros? O ouro do Brasil, quantos, quantos?
E agora? Fez-se uma revolução de cravos e abriram-se as fundações para instituir o Quinto Império, que o António Vieira e o Agostinho da Silva, homens da transcendência, vislumbraram para Portugal e durante 30 anos o sonho foi maravilhoso.
Reformas para todos. Quantos descontaram para ela e quantos anos? Ensino para todos praticamente à borla. Antes, quantos tinham acesso ao ensino superior? Salário mínimo para quem não tem outro tipo de rendimentos, até para os ciganos, que dizem que são romenos e para os africanos, não é maravilhoso? Dinheiro à farta para comprar casa, automóvel, férias no Egipto, na Tailândia ou no México…E para quem, mesmo assim, era incapaz de entrar no sonho, era este induzido através de programas gratuitos de metadona e apoio psicológico.
Acabou-se? Acabou. Mas que foram 30 anos de arromba, foram. Só há um paralelo assim, na história das civilizações, narrado no Livro dos livros que foi a promessa aos hebreus da terra de Canaã onde corria o leite e o mel e estes, povo avisado e culto, preferiram manter-se 40 anos no deserto antes de lá entrar, quando fugiram do Egipto, por causa da maná fresquinho que todas as manhãs caía do céu. 
O que me irrita, no meio disto tudo, é que praticamente toda agente sabia que isto não podia durar eternamente. Que me recorde, só o velho Medina Carreira e o Campos e Cunha anunciavam regularmente que o fim estava próximo (foi também previsto pelo X. Barroso, na sua crónica do Palavreado) e tudo a assobiar para o ar. Ó doce ilusão…
Nós não sabíamos que as nossas aldeias estão morrer há anos? Que o país interior está quase morto? Que a nossa débil agricultura morreu com a PAC e que a nossa industria se encontrava em lenta agonia desde que começou a globalização?
Quem é que nos proporcionou esta maravilhosa aventura? Os tais governantes de quem agora tanto mal dizem. Se isto não é ingratidão é o quê, afinal? Expliquem-me.

PS. Eu sei que é legitimo pensar que o Sócrates até pode nem ter estaleca para o lugar. Que acabou o curso à custa dos amigos e que nunca fez nada na vida senão vender jogo. Mas se ele fosse um homem bem preparado, ele e os outros, isto não tinha durado nem metade.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O poder é... mau!

Fareja-se e fareja-nos quando lhe interessamos. É mau na sua essência porque nunca leva ao bem, nem ao bom, nem ao belo: ele divide, discrimina, trata mal, é egoísta, velhaco e só tem olhos para si próprio e para as limitações e defeitos dos outros.
Tem um cheiro especial que atrai os incautos, que pensam que se chegarem a ele o vão usar bem. Simplesmente tal não acontece porque seria dar-lhe e acreditar nas possibilidades que ele não tem.
Apresenta-se sob variados disfarces: riqueza, saber, beleza, disponibilidade, simpatia, palmadinhas, mãos abertas, elogios e muitos outros mas, no final, dá sempre a machadada da prepotência e volta àquilo que é: mau!
Nunca encontrei ninguém que o exercesse ou para ele olhasse com simpatia que passasse incólume à sua atracção e exercício, mesmo os mais virtuosos: mandar, dominar, controlar, indicar, impor... mesmo quando debaixo de uma capa de respeito pelo outro e pela sua opinião... coisa que, verdadeiramente, nunca acontece.
Ele diz e é para ouvir; ele manda e é para obedecer; ele ordena e é para cumprir; ele assinala e é assim mesmo.
Exercê-lo leva sempre ao domínio. A ele cabe sempre a última, a penúltima e a antepenúltima palavra... mesmo que, pelo meio, deixe cair alguns grãos de milho para consolar o burro.
Não há vacina que o previna, remédio que o cure ou mezinha que o apazigue, embora já tenham sido feitas muitas tentativas e sofisticadas experiências. Quem por ele passa (quem o xerce) fenece na grandeza, mingua na humildade, sovina na generosidade, incha no orgulho (ele... e família), arrota na prepotência, baba-se na estupidez e vangloria-se na ignorância.
Não o queiras, não o desejes, não o almejes, mesmo quando se disfarce em serviço! Que é, afinal, a capa mais subtil que veste para se insinuar e tornar apetecível. Jj-a

domingo, 21 de novembro de 2010

QUENTES e BOAS

Pelas escassas adesões que se foram registando no Blog, receava-se que o Magusto de 2010, ficasse aquém da afluência dos três últimos anos, o que se confirmou.
A realização da Cimeira da Nato no Parque das Nações, em Lisboa, teve influência no número de aderentes, devido às restrições ao trânsito em Lisboa, e também à tolerância de ponto na 6ª Feira para a função pública lisboeta, o que proporcionou um fim-de-semana alargado, que quem pode aproveitou para sair da cidade.
As presenças cifraram-se em cerca de metade do ano anterior, pois desta vez apenas estiveram 30 pessoas. Os que foram não sentiram qualquer constrangimento no trânsito, pois haviam poucos carros a circular dentro de Lisboa. Pode-se concluir que foi o receio que inibiu alguns, pois estando inscritos não compareceram.
As castanhas eram gradas e assadas com primor fizeram as delícias dos presentes, que as descascavam num ápice e saboreavam com avidez. Chegavam gradualmente à mesa acabadas de sair do forno, pelo que estavam sempre quentes e estaladiças. Haviam bebidas: sumos, vinho, aguapé e jeropiga! A rematar o cafezinho quente e aguardente medronheira do Moradal, trazida pelo beirão habitual!
Na parte final do convívio, entrou em acção o grande animador José Freire com a sua concertina, sendo acompanhado por um grupo que manejava instrumentos trazidos por ele. O Magusto terminou em apoteose, com todos a entoarem canções.
È caso para dizer: eram poucos, mas bons! Refira-se o impecável serviço dos Delegados: Francisco Jerónimo e Apolinário Mendes. Na pessoa do Reitor da Casa, Pe. Manuel Abreu, agradece-se o bom acolhimento da SVD.

António Pinto




MAGUSTO/2010 – Zona Sul
     Presenças:
Albertino Antunes
Antero Nabais Paulo
António Casimiro Barata
António Lobo da Silva
António Man. Marcos
António Paulos
António Pinto e Olívia
António Reis
António Rui Barata
Apolinário Mendes e Maria
Artur Santos
Daniel Reis
Eduardo Rego
Francisco Barroso
Francisco Jerónimo
Francisco Magueijo e Mª de Jesus
Henrique Barata Nunes
Henrique Neves e 1 amigo
José Carlos Martins e Júlia
José Miguel Teodoro
José Freire
José Magalhães
Pe. Américo Menezes
Pe. José Antunes
Pe. Manuel Abreu
Pe. Manuel Menezes

TOTAL: 30 presenças, sendo 22 AA, 4 Esposas e 4 padres. 

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ferraram-me co’ 53


Quando, por volta dos 11, abandonei a capital dos pinheiros bravos, das estevas,  das giestas  e... dos calhaus rumo ao SVD de Fátima, ferraram-me com um número que devia figurar em todas as peças de roupa que me acompanhassem e constassem da maleta de cartão que me acompanhou, arrumadinha, no compartimento do “cavalo de ferro”, como lhe chamava o ti’ Júlio, um dos poucos cérebros pensantes existentes no Violeiro. Ainda hoje conservo o 53!
Para mim isso era uma novidade como tantas outras coisas, que as pessoas recebessem um número. Assim, como exigirem um fato para dormir ao qual davam o esquisito nome de pijama (permitam-me: isso é lá nome que se prante a uma peça de roupa tão nobre e composta de duas peças?). A minha mãe sabia lá o que era esse tal pijama e muito menos para que servia. E ela até era costureira.
Chegado ao destino, depois de uma mudança de linha no Entroncamento, na companhia do meu conterrâneo António Luís (o qual carrega o feliz apelido dos Anjos Santos), que era o 55 lá nos alistámos no batalhão chefiado pelo capitão Francisco Faes e sob cujas ordens e orientações estivémos um ano. Um ano de certo modo pouco interessante, pois além das horas de trabalho o estudo limitava-se à repetição dos conteúdos da 4ª classe. E que capitão era FF: alto até dizer enorme, o que me intrigava bastante, pois os violeirenses devem andar pelo metro e setenta. Claro, como qualquer soldado raso tive que me habituar ao calçado novo, que era muito duro para os meus pés selvagens habituados a pisar, durante anos, directamente o solo, como aliás aconteceu com muita gente da minha geração. Adaptado à vida no quartel (nós até aprendíamos a marchar! Confesso que tinha alguma dificuldade em distinguir a esquerda da direita) continuei o meu trajecto escolar e profissional. Nem tudo foi bom provavelmente... isto porque eu era velhaquito ou velhaco? muito velhaco não era! Lembro uns “biqueiros” do Sousa Grande no campo de futebol, uma sova bem aplicada pelo Avelino Costa, junto das garagens, e outra dada pelo Mário Castro debaixo do carvalho.
Porém, a maior humilhação foi quando um dia o prefeito (FG) me chamou ao escritório e depois de me mandar pôr em sentido me apontou o indicador em riste, dizendo: “Minino, caso sério! Você é muito agressivo”. E eu nem sabia o que significava “agressivo”. Lembro, ainda com alguma tristeza, as lágrimas da impotência e a humilhação  da cena, mas isto não é nada quando lembro a alegria da leitura a minha maior paixão de pré-adolescente (Salgari e tantos outros autores encheram-me a cabeça de aventuras e a alma e o coração de emoções e alegrias inimagináveis). Jj-a

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A minha inteira gratidão

 Julgo estar a ser justo ao dizer-lhes que, quase tudo o que tenho sido na vida como pessoa e muito do que fui como jornalista profissional, o devo à SVD e aos meus professores e colegas no Tortosendo (dois anos) e Fátima (três). E ouso admitir que comungue de semelhantes sentimentos a larga maioria dos antigos alunos, que dali saíram muito mais bem preparados para a vida.
Ainda hei-de averiguar, mas por ora desconheço quantos seremos, exactamente. Um cálculo indicativo e avançado pelo próprio Superior Provincial, P. José Antunes, aponta para cerca de três mil jovens, que terão passado pelos nossos três seminários, desde o primeiro curso no Tortosendo, em 1949, e do qual ainda estão vivos e se recomendam, entre outros, os dois Jerónimos de S. Vicente da Beira (o Francisco e o padre Hipólito), o Serra Duarte e o Apolinário Barrau. Aliás, este excelente quarteto usa ser presença regular nos convívios anuais da AAVD.
Partindo do princípio que apenas meia centena destes milhares de alunos terão emitido votos perpétuos e que foi, fundamentalmente, para formar missionários que os fundadores da SVD portuguesa aqui chegaram, há 60 anos, poderíamos levianamente concluir que o essencial da missão verbita, em solo luso, fracassou. Mas é olhando, justamente, para os milhares que foram chamados mas não escolhidos que eu me sinto na obrigação de aqui formular um voto expresso de gratidão ao Verbo Divino, pelo que a sua presença em Portugal significou para a vida de tantos de nós e para o próprio progresso do País.
É preciso ver que as levas de jovens motivadas pelo padre Lúcio (e outros, nas zonas de Fátima e Guimarães) vinham de zonas rurais e de famílias pobres e cujo mais provável futuro seria o da emigração. Pois, além de lhes terem sido facultadas as ferramentas teóricas e práticas para melhor singrarem cá fora, a SVD educou-os à base de princípios éticos, humanos e solidários que os marcaram indelevelmente.
Nem preciso especificar, ou nomear, as profissões e os profissionais (advogados, juízes, bancários, seguradores, contabilistas, funcionários públicos de toda a ordem, médicos, jornalistas (o meu caso), professores, etc.) de que o Portugal interior e pobre assim beneficiou, graças à competência e ao espírito de missão da SVD. Isto no plano colectivo. Já no individual, o que eu sei é que são raros, raríssimos, os descontentes ou ressabiados, pelos anos vividos intra-portas dos nossos seminários. Até eu que, ao ser despedido no fim do 5º ano, vi frustrada a pretensão juvenil de ir ensinar Latim na Universidade de Nagóia (Japão) ou missionar de «teco-teco» na Papuásia-Nova Guiné (as coisas que os jovens sonham…), ainda hoje, uns 50 anos depois, sinto continuar a ser meu dever repetir: muito obrigado, por me terem feito membro da família verbita, para toda a vida. À Congregação do Verbo Divino, portanto, a minha inteira gratidão.

Daniel Reis

Nota
Este textinho foi publicado, a pedido do David Sampaio, seu Director, na recente edição especial da revista ‘SVD Ao Encontro’, destinada aos actuais alunos verbitas. Como se trata de uma publicação de circulação restrita (600 exemplares) e que, julgo, poucos dos nossos ‘bloggers’ conhecerão, pareceu-me interessante republicá-la aqui, retocada e corrigida na informação estatística de padres e ex-alunos. A quem, porventura, já tenha lido, as minhas desculpas por voltar a chateá-lo. DR     
Juntos à mesa, no recente Encontro do Tortosendo, três integrantes do Curso de 1959. Da esquerda para a direita: Francisco Magueijo, Daniel Reis e Eduardo Moutinho. Também lá estiveram, como é costume e entre outros, Virgílio Domingos e José Freire. Entre Guimarães e Tortosendo, o recrutamento desse ano colhera uma centena de rapazes. E só duas dessas criaturas terminaram o sétimo ano, ninguém se aventurando a percorrer o restante caminho de virtudes, até lá para o 16ºano

Paulo, mestre de sacristia


Este Paulo não foi perseguidor de cristãos e não consta que tenha sido parado numa qualquer viagem para Damasco – o seu trânsito para o Tortosendo foi limpo, directo, sem escalas, meio anónimo, que só mais tarde chegaria à notoriedade, graças a um pé direito em regra muito inspirado no futebol de onze, raro em pesos-pluma como ele.
Em regra alheio às obscuras tarefas defensivas, o filho do senhor Zé V’cente, um dos poucos que, no seminário, usavam chuteiras, jogava do meio-campo para a frente; o pai era dono de uma loja no Sobral do Campo, onde as senhoras da terra e dos arredores se abasteciam de coisas como panos de cozinha, atoalhados e outros adereços de casa, além de roupa de baixo, de homem e senhora. A tia Celeste sempre foi freguesa da loja.
Se alguma coisa fui, como sacristão, ao Paulo o devo: a preparação das hóstias para a comunhão (vinham das Freiras, da Covilhã), a lavagem e o enchimento das galhetas da água e do vinho, acender e apagar as velas dos altares, pôr os livros de missa nos respectivos suportes, a abrir nos sítios certos, ajudar à missa em Latim e em Português, fazer a genuflexão com a elegância e a dignidade adequadas, cuidar das vestes litúrgicas dos senhores padres e ajudá-los no acto de paramentar-se para dizerem missa, a abertura das garrafas do vinho e a sua prova, ou a cor dos paramentos conforme o calendário católico – foi ele, o Paulo, que me ensinou tudo. Também foi por ele que soube do segredo do armário da sacristia.
 Na sacristia pequena, havia um armário com as vestes sacerdotais sem marcas privadas de posse, digamos um guarda-roupa partilhado por todas as suas reverências, apesar das notórias diferenças em altura e envergadura dos protagonistas e da chocante diferença de tamanhos e qualidade das vestimentas, por sinal, sofrivelmente básicas algumas delas, em particular uma casula verde, muito pequena em tamanho e a dar para o feiote.
Já tínhamos suficientes provas dadas, eu e o Zé Neves, o outro sacristão de turno, quando o mestre de sacristia nos passou o segredo do armário. A forma como o recebera dos seus antecessores tinha sido em tudo idêntica, e também na primeira semana do Tempo Comum, que é quando se usa paramentaria de cor verde. Um genuíno sacrista, o Paulo; oiçam-no: “Se o querem ver bravo (referia-se ao padre que se paramentava do lado direito da sacristia, junto à porta), ponham-lhe esta casula. Fica tudo preparado de véspera, não é? Primeiro, a alva, que é a primeira peça que ele veste; por baixo, sucessivamente, a estola, o cordão de pôr à cintura, e, no fundo de tudo, a casula. Ele só dá por ela quando a tiver vestida! Um espectáculo! Da última vez, que foi comigo, só disse: ‘Maldita, esta casula’ e esteve a pontos de a atirar ao chão e pisá-la.” Oficialmente, o acto seria visto como ignorância de principiante; todavia, os dois seminaristas pré-adolescentes sentiam estar perto de viver um momento único. Com a aliciante, apimentada, de ser praticado na pessoa do Padre Prefeito, como uma espécie de sotaina transmontana aplicada aos quase dois metros de estatura do homem dos castigos e das “chapadelas”.
Foi num dia bom, soalheiro, mas ainda não excessivamente quente que a fomos queimar, junto às mimosas, no caminho da vacaria; para lá, fomos em procissão, o Paulo do Sobral levando posta a casula maldita, eu e o Neves a segurar a casula, por trás, quais damas de honor, ele, o nosso mestre de sacristia, numa litania alatinada, nós a acompanhá-lo em esforçada desafinação. Na rua, em todo o perímetro da quinta do Seminário do Tortosendo, só nós os três; os outros, a malta, mais novos e mais velhos, cumpriam as duas horas diárias de estudo obrigatório.
Cumpríamos ordens, nós os três. De manhã, antes das sete, eu e o Neves tínhamos visto o Padre Prefeito, ridiculamente trajado, em transe, numa fúria de todo insuspeitada em pessoa da condição de Sua Reverendíssima. Fui eu que lhe dei a vestir a peça responsável pela crise – a casula verde, singela, quase pobre, que, vestida, lhe chegava apenas um pouco abaixo da cintura; em homem da altura dele, para lhe assentar com a decência mínima, a casula precisaria de ter mais um palmo e meio de comprimento atrás, e outro tanto à frente. No momento em que sentenciou a peça à fogueira, parecia ter vestido um bibe de criança.  
Entre a procissão e o auto-de-fé, andámos lá por fora as duas horas do estudo obrigatório. Finou-se sem glória nem queixas, assistida por três sacripantas, a mal amada peça, vinda porventura no enxoval de um padre mais baixote, ainda por identificar.
As consequências do sacrilégio, se as houve, não sei. Mas, ser sacristão na Casa do Verbo Divino, no Tortosendo, nunca mais foi a mesma coisa.
José Miguel Teodoro

domingo, 14 de novembro de 2010

As Fotos (roubadas) do Tortosendo!

Como tinha prometido, ia roubar umas fotos por aí.... A principal fonte foi o Touny, de seu nome António Madeira Antunes, entre outros. Muitas mais andam por aí, só que o tempo é escasso e as pesquisas no FB roubam muito tempo... com algum atraso, mas com toda a actualidade, aqui vai o que "arrebanhei"!...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Magusto - Delegação Sul AAVD

A A V D
Delegação Regional
Zona Sul

MAGUSTO

Dia: 20 Novembro 2010 (Sábado) – às 15 H

Local: Casa SVD / Lisboa
Rua S. Tomás de Aquino, 15
1600-203 Lisboa – tel. 217 220 200


Caros verbitas:

A Delegação Regional da Zona Sul vem através deste meio convidar todos os Antigos Alunos com seus familiares e amigos para o tradicional Magusto de S. Martinho.

A Delegação encarrega-se de adquirir as castanhas, o vinho e sumos....... Os vinhos de marca, jeropiga, queijo, presunto, enchidos e sobremesas, ficam ao critério e generosidade de cada um de vós.

É uma boa oportunidade para os que ainda não conhecem a casa, e para os outros é sempre bom regressar onde nos recebem bem.

Apela-se a quem tenha um acórdão, viola ou outro instrumento musical, que traga para animar o ambiente. E já agora...traz outro amigo também!

Agradecemos o favor de confirmação das presenças até dia 18 de Novembro (5ª F --22h ou sendo pela Internet até às 24h)

Apolinário Barrau Mendes...... Tel: 213 833 679 e telem: 968 810 314 
Francisco Jerónimo ................. Tel: 214 927 428 e telem: 918 457 977 
José Prata Candeias.................... Tel: 212 122 896 e telem: 968 364 182
Pela Internet………………. pintolivia@sapo.pt
Facebook: Inscreve-te aqui


Para ampliar clica na imagem!

Esperamos por vós e saudações verbitas.
Os Delegados da Zona Sul
Apolinário, Jerónimo e José Prata

domingo, 7 de novembro de 2010

Como se constrói a vida?


Foi ao olhar para ele, o HBA, que tentava fugir da cruz para ir socorrer os prisioneiros de Auschwitz que compreendi que alguma (muita) coisa falhava no nosso cristianismo de momentos e ocasiões. Esta magnífica escultura encontra-se dentro de um santuário em Nova Huta/Cracóvia (Polónia). A tensão que atravessa aquele corpo e a  expressão de dor e desespero chocaram-me e incomodaram-me... e fizeram-me reflectir sobre muitas coisas e formular muitas perguntas, desde a dimensão solidária que o nosso cristianismo há muito secundarizou, passando pelo facilitismo com que argumento em defesa e justificação de muitas omissões, preguiças e insensibilidades.
Este homem/deus, o da cruz, está ali lembrando aos polacos e a outros que por lá passem e o queiram visitar... que não há nada: falta de tempo, falta de meios, falta de saúde, falta de jeito, falta de qualidades, falta de apoios ... que justifique a nossa mediocridade, porque o HBA tinha muito menos e doou-se até à última gota de vida. Construiu uma vida... dando-a e gastando-a.
Daí que, por vezes, dou comigo a pensar e a meditar sobre o que é a vida, porque nos agarramos tanto a ela, e como a vamos construindo de modo a dar-lhe significado e sentido. E vem-me à mente frequentemente o Cristo de Nova Huta e outros cristos pelos quais nutro uma enorme paixão e carinho: o do Estreito/Oleiros (Portugal), o da igreja dos carmelitas Burgos/Espanha e o de José Rodrigues que se encontra na igreja do seminário de Viana do Castelo (Portugal).
Todos sabemos, independentemente do discurso, que esta é a questão da nossa existência. Afinal, para que serve e a quem serve a minha vida? O que faço dela e com ela? E as respostas “públicas” são umas e as “íntimas” são outras... Mas quaisquer delas desafiadoras, porque nunca nos satisfazem como gostaríamos.
Costumo dizer, uma que outra vez, aos meus alunos do 12º ano que uma vida vale a pena se ao olhar para ela descobrirmos que, durante dez breves segundos (eu sei que não são breves nem longos!), ela serviu para fazer, pelo menos uma outra, um pouco mais feliz e que o “haver” dos contabilistas de deus tem isso em conta, por ordem expressa da SS.ma Trindade (não é esse o nome do nosso deus?).
Mas, indo um pouco mais além, diria mesmo que as vidas se constroem vidas sobre três pilares, que são os do verdadeiro seguidor do homem dos braços abertos: misericórdia, compaixão e cordialidade.  Foi isto, por exemplo, que o pai do filho pródigo fez. Não julgou, não repreendeu, não se lamentou... nem sequer lhe deu atenção quando ele – o pródigo -  tentava implorar o seu perdão. Só se alegrou! E, de tão feliz, ofereceu uma grande festa! Que sorte teve o pródigo em não se ter encontrado primeiro com o irmão mais velho. A história, sabemo-lo, pela narrativa, teria sido outra bem diferente... nós, honestamente, andamos muito mais perto do irmão do que do pai... por mais que o disfarcemos. Teríamos, seguramente, um bom raspanete para lhe aplicar e umas exuberantes “trombas” para lhe mostar a alegria experimentada com o seu regresso! Não nos iludamos: uma vida de desculpas, de dedos apontados e de acusações... é uma vida pobre e muito longe da do HBA. A qual, para vários de nós, ainda nos diz alguma coisa... Jj-a

sábado, 6 de novembro de 2010

Tortosendo III

CONCERTOS&BOMBOS

Não renunciando à liberdade que me é concedida por todos e que é expressa nas missivas que me endereçam de "amiúde" (...vá lá... de vez em quando digam qualquer coisa, para não parecer que estou a falar sozinho!), vou continuando a publicar mais algum material recolhido no Tortosendo. Claro que ainda não termina por aqui, a não ser que continuem INDIFERENTES (foi assim que os ratinhos do Pavlov morreram!)... 

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Tortosendo - II

Concertos & Concertinas I

Mais uma vez a selecção dos textos que me chegam é demasiado trabalhosa, por isso prefiro escrever eu, correndo o risco de os "enjoar"! Mas desta vez é para anunciar alguns recortes de diferentes momentos que animaram a nossa tarde. Animaram é uma forma de dizer, pobre, porque, na verdade, todos participaram, encantaram, cantaram e dançaram... como vão ver daqui para a frente!


Continuam a chegar inúmeros textos sobre o convívio do Tortosendo, para não ferir susceptibilidades, continuo eu a escrever... ouçam!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Tortosendo 2010 (I)

Com a selecção dos textos que me enviaram não tenho tido tempo para mais nada e para não perder mais,  decidi fazer este pequeno textículo para introduzir o início do dia no Tortosendo. Dando uso ao ditado, "ex seminarista que se preze, nunca mais põe os pés numa missa"! Até que foi um belo início de dia e, se houve ausências, não se notaram!

Foi assim que começou o dia no Tortosendo, de resto, como é habitual. Só faltou o livro das músicas "Exultemos" ou o outro mais moderno "Louvemos ao Senhor", mas nada que uma providencial fotocópia não resolvesse. E foi ouvi-los acordar anjos e querubins, causando um tal desassossego às portas de S. Pedro, que resolveu parar com a chuva até que tudo estivesse terminado e, até, talvez, para assistir refastelado a tudo!

domingo, 31 de outubro de 2010

TORTOSENDO’60: uma jornada de redescobertas



Foram chegando... devagar, devagarinho... mas chegaram! Uns mais expansivos que outros, o que roça a normalidade, mas todos com uma grande expectativa em relação ao que os esperava e ao que ía acontecer... E o que aconteceu foi bom, porque além do trabalho da equipa organizadora todos teimaram em dar o seu insubstituível contributo para que tudo corresse bem e todos se sentissem à vontade e partipantes de pleno direito nesta festa de encerramento dos 60 anos de presença da SVD em Portugal. Olhámo-nos e vimos – apesar de se ouvir muitas vezes as frases “estás igual”, “não mudaste nada”, os cabelos é que estão um pouco mais brancos”... - que não estamos na mesma nem em relação ao ano passado e muito menos em relação às dezenas que já lão vão, depois da nossa passagem pela SVD. Mas, soa bem e adoça os ouvidos e a vaidade!
E, digo isto porque todos vimos muitas carecas ou meias-carecas a brilhar, ouvimos muito discurso saudosista e revivalista, por detrás do qual se escondem as memórias mais vivas do que foi a passagem pela “nossa” instituição.
A maior parte de nós estamos-lhe infinitamente gratos outros ainda não conseguiram digerir nem integrar o fel amargo de algumas injustiças de que foram vítimas. Compreendemo-los e ninguém lhes leva a mal por não quererem estar presentes, mas que gostávamos de os ver por cá, lá isso gostávamos e tenho quase a certeza de que eles próprios se sentiriam bem ao olhar para aquelas paredes, janelas salas e corredores, campos, refeitório e cozinha, que lhes lembrariam muitas coisas boas e interessantes. Mas a vida é assim mesmo... A nossa, como a de todos os humanos (ricos e pobres, sábios e ignorantes) é feita de pequenas e triviais realizações, cuja maior grandeza está na sua pequenez e na sua simplicidade: aliás, o segredo das grandes vidas!
Estávamos muitos e bons (perdoem a imodéstia)! E fizémos, com a ajuda da solidariedade que cultivamos, os milagres da multiplicação dos pães e da amizade, que são os mais belos e significativos, porque promovem a alegria do coração, o olhar e o gesto da ternura e o prazer do braço e do abraço.
Para além da casa que tão simpaticamente nos acolheu, quero referir a celebração da fé, que sempre nos ajuda a alargar horizontes e a procurar ou lembrar outras referências e que, juntos, celebrámos com muita dignidade e musicalmente afinada (o que não é pouco!), certamente mais mais fruto da alma do que do ensaio.
Uma palavra de especial simpatia para com a dona Maria Octávia. Quis estar presente e via-se e sentia-se que estava feliz por tanta gente se lembrar dela com tanto respeito e carinho.
Agora que redescobrimos o caminho e experimentámos que o encontro é bem mais do que comer e beber... mas também abraçar, celebrar, estar, olhar e recordar a desculpa fica mais difícil de arranjar... para não ir. Jj-a

LISTA DE PARTICIPANTES NO ENCONTRO DO TORTOSENDO

30 de OUTUBRO de 2010

ANTERO N PAULO + 5 CONVIDADOS‎
ADELINO GOMES
AGOSTINHO SILVA
ALCINO FARIA E ESPOSA
ÁLVARO GIL BOUCHO SOARES
ANTÓNIO BARATA E ESPOSA
ANTÓNIO BRITO
ANTÓNIO CâNDIDO
ANTÓNIO CASIMIRO E ESPOSA
ANTÓNIO ESTEVES ROSINHA E ESPOSA
ANTÓNIO FERRAZ MOURA
ANTÓNIO JOSÉ SILVEIRA
ANTÓNIO LEAL SANCHES
ANTONIO M PEREIRA ANTUNES‎
ANTÓNIO MADEIRA ANTUNES
ANTÓNIO NATÁRIO GOMES‎
ANTÓNIO PAULOS E ESPOSA
ANTÓNIO PINTO DIOGO
ARMINDO CACHADA
ARTUR LEITE E ESPOSA
CARLOS ALMEIDA
CARLOS GUIMARÃES E ESPOSA
CLAÚDIO MIGUEL SANTOS
DANIEL ESTEVES REIS (BOGAS)
EDUARDO MOUTI.FERREIRA SANTOS
EMÍLIO AUGUSTO BÁRBARA BARROSO
FAUSTO HERCULANO B BAPTISTA
FERNANDO AUGUSTO BATISTA LOPES
FERNANDO AUGUSTO BRAGA
FERNANDO DAS NEVES BAPTISTA
FERNANDO MATEUS DIAS CARVALHO
FRANCISCO MAGUEIJO + ESPOSA
IRMÃO JOSÉ JESUS AMARO
ISMAEL ANTUNES REIS
JOÃO AUGUSTO NEVES BAPTISTA
‎JOÃO LOURENÇO + 4 CONVIDADOS
JOÃO MANUEL SERRA DUARTE
JOAQUIM JOSÉ CORISTA + ESPOSA
JOAQUIM JOSÉ NUNES PORTAS
JOAQUIM LOURENÇO BRÁZIA
JOAQUIM NABAIS+ ESPOSA+NETA
JOAQUIM TRINDADE DOS SANTOS
JORGE SILVA MARTINS+ ESPOSA
JOSÉ ALBERTO J GONÇALVES(TRIGAIS)
JOSÉ ANTÓNIO NETO GRANCHO
JOSÉ ANTUNES CERDEIRA
JOSE CARLOS PROENÇA COSTA
JOSÉ EDUARDO ANJOS LEAL
JOSÉ FERNANDES
JOSÉ FREIRE
JOSÉ HENRIQUES DA FONSECA
JOSÉ LOPES NUNES
JOSÉ LUCIANO VAZ MARCOS
JOSE LUIS GONÇALVES AGOSTINHO
JOSÉ MANUEL FORTUNATO CANHOTO
JOSÉ MANUEL MELEIRO ALVES NEVES
JOSÉ MANUEL TEIXEIRA DIAS
JOSÉ MARIA RAMOS FREIRE
JOSÉ MENDES LOPES MARCELO
JOSÉ NEVES DA COSTA
JOSÉ PINTO SIMÕES DA CUNHA
JOSÉ QUELHAS
JOSÉ SANTOS DINIS
JOSÉ TEODORO PRATA
LEONEL FEITEIROFRANCISCO
LICÍNIO MANUEL MENDES DUARTE
LUIS CANELO
LUIS CEREJO
LUIS MANUEL G. BOGALHEIRO
LUIS NATÁRIO
MANUEL CARLOS ROCHA PEREIRA
MAURÍCIO ESTEVES MELFE
MESSIAS GOMES + ESPOSA
NUNO CARAMELO
NUNO MOTA GIL
OCTÁVIO RAMIRES VINHAS
‎PAULO BRÁS
Pe ELÍSIO
Pe JOSÉ ANTUNES (Provincial)
Pe RAFAEL
Pe SALDANHA
Pe SOARES
PEDRO BAPTISTA
PEDRO VAZ
PROFESSORA OCTÁVIA
RICARDO FIGUEIRA
RICARDO MONTEIRO DIAS
RUI FREIRE
TADEU MARCELO BATISTA BARATA
TIAGO SILVA
VASCO RICARDO SOARES
VIRGÍLIO DOMINGOS SANTOS
VITOR M CARMO BAPTISTA
VITOR MANUEL ALVES GREGÓRIO

91 ANTIGOS ALUNOS + 22 CONVIDADOS(ESPOSAS+FAMILIARES)
= 112 PARTICIPANTES


Muito obrigado a todos os participantes pela alegria e boa companhia!!!

Agradecimentos muito especiais ao José Canhoto (boa pinga), Quim Serra Carvalho (excelente pastelaria) e Zé Henriques (carne tenra da serra da Malcata).

Tortosendo? Bom... como sempre!

Para aguçar o apetite a todos deixo uma foto que diz muito do sentimento que reinou este sábado no Tortosendo.


Passou da centena, os que de norte a sul do país, quiseram dizer presente em mais um dos encontros "rijos" dos Beirões que têm orgulho e vaidade do seu passado e que se encontraram hoje  na casa do Verbo Divino do Tortosendo. Outros se lhes juntaram com o mesmo espírito verbita que nos une, independentemente da sua casa mãe.

Já me tinham dito e eu acreditava, mas desta vez vivi! E, aquilo em que eu acreditava, em muito pouco se assemelhava ao que vivi.

Assiti a uma Eucaristia que me emocionou, pelo local, pelos presentes e pelos celebrantes. Fizemos um almoço como só os beirões sabem, cheio de alegria e memórias à mesa. Tivemos uma tarde de arromba, como já não passava, faz muito tempo. Por tudo isso, o foguete do José Eduardo foi curto para tanta emoção, mas suficiente para deixar "esvoaçar" e estalar alto o que nos vai no coração.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Sugestões da Valenciana

1. Pelo que me parece, a Valenciana primeiro apetrechou estômagos e depois inspirou mentes. Já li, já vi e ouvi e de tudo o que se disse, e não foi pouco, ficou-me a ideia “peregrina”, provavelmente, de que se está a entrar numa discussão parecida com a que, há anos, se vem travando no seio dos Ex’s SVD sobre a não adesão do grupo da Beira Interior à AAVD. Sempre a achei, com todo o respeito por quem diferente pensar, uma questão menor, de lana caprina mesmo. A uma associação só pertence quem quer e não é por pertencer a ela ou não que se cortam as raízes que a todos nos ligam à SVD. Também todos sabemos que entre nós há os “institucionalistas” (dentro da SVD observa-se o mesmo) que sonham com uma associação forte, numerosa, activa, com as cotas em dia, com capacidade organizativa e mobilizadora e outros (também os há na SVD) mais livres e libertos que, sem a hostilizarem, preferem ir por outros caminhos: vão-se juntando, de vez em quando, para dizer/fazer duas coisas, mas sem compromissos de maior, pois já bastam os que a vida impõe no dia-a-dia. Ou usando a linguagem do Nicolau Marques: há os “substantivos” e os “advérbios”. São duas maneiras legítimas de estar na vida em relação a isto e a muitas outras coisas.

2. Gosto sempre de ouvir falar em transformar/mudar o mundo e dos sonhos que sobre tal projecto nos assaltaram na nossa infância e adolescência. Penso que também eu terei sido bafejado com tais piedosos e profundos desejos. Hoje, não acredito que sejam desejos de infância, mas acredito que sou convidado a mudar o mundo pelo próprio mundo e por todos aqueles com quem partilho esta CASA COMUM. Mas este mudar já não é através do modelo quixotesco do escudo e da espada, mas através da minha mudança (daquela que opero em mim com a ajuda dos outros). Eu mudo o mundo mudando-me a mim e disso não estou dispensado, porque ninguém me pode dispensar! E a mim, verdadeiramente, só eu me posso mudar! E não é difícil constatar que à medida que me mudo e transformo numa pessoa melhor este mundo passa a ser também ele um pouquinho (muito pequeno é certo) melhor. E é este o grande desafio que se nos coloca a “substantivos” e “advérbios”. E não podemos recusá-lo, pois se o fizermos este mundo fica mais pobre e menos “melhor”. Jj-a

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Da Natureza do Sabor.


Nicolau Marques

Ao ouvir a intervenção do nosso Daniel Reis no último encontro (que, curiosamente, não está longe das respostas que eu próprio dei às perguntas do convidado e bem aparecido António Colaço) lembrei-me da sábia cautela ditada por Michael Oakeshott : A conjunção do sonho com o poder degenera necessariamente em tirania
Por certo, o motivo da tão lapidar sentença deste pensador desaparecido há 20 anos, e que alicerçou o seu cepticismo em relação aos esquemas metafísicos abstractos tão do agrado do idealismo racionalista continental nos ensinamentos da tradição e na sensatez do empirismo britânico, é o rescaldo das trágicas aventuras políticas ensaiadas pelos europeus no séc. XX, a partir, por exemplo, de Berlim, de Roma, de Moscovo. Na verdade, propõe o céptico inglês, a ideia de que todas as associações deverão ter um carácter instrumental (providenciar e gerir meios em vista de um fim previamente determinado) não só não faz justiça à associação civil - propriamente, “respublica” (…nada de confundir com os delírios românticos impostos por meia dúzia de burgueses de cartola há 100 anos cá no reino, tanto mais que a monarquia pode e deve ser uma “respublica”) - como tem o efeito perverso de alimentar os mais trágicos devaneios colectivos: seja em vista de um fim económico, político, moral, religioso, étnico.  A associação civil não será, por conseguinte, um elenco de objectivos substantivas (concretos, identificados, definidos) mas apenas um quadro de referência adverbial capaz de legitimar (ou inibir, claro) a miríade de incontornáveis propósitos individuais.  
O “Sabor da Beira”, em boa hora gerado pelo nosso Bito-Que, como nele me entendo (e se nele bem me entendo, obviamente) retira toda a sua virtualidade desse seu carácter adverbial e não substantivo. É uma associação civil, afinal. Que visa o “Saber da Beira”? Nada em concreto e tudo o que cada um dos seus membros quiser: a satisfação do reencontro periódico passadas décadas (… e que nele se esgotará); o relembrar de momentos gratos da adolescência; a catarse de pequenos traumas que os anos, ainda assim, não puderam resolver; a satisfação de ouvir de condiscípulos o louvor a mestres que nós próprios não soubemos fazer; a mobilização para o arranjo de um telhado;  a dissertação sobre a secreta proveniência do medronho que o Fernando, mais uma vez, providenciou;  o humor sadio a propósito do avanço desta calvície ou daquele abdómen; a azáfama do Pinto para que as quotas e listas da AAVD fiquem em dia; os cantares desgarrados enquadrados pela concertina do Freire; a proposta de reunir as criações musicais de alguém entretanto desaparecido; a comparação da entremeada que agora se degusta com o naco de vitela que há dois meses se apreciou; etc. Pouco, portanto. E, todavia, muito: determine-se uma meta que a comprometa substantivamente e, a prazo, será uma associação do passado. Mais uma. E dessa ameaça nos quererá prevenir o avisado Daniel.
N.M.