sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Eu já não gosto do Natal...



não porque ele seja demasiado consumista
não porque ele seja demasiado pagão
não porque ele seja demasiado igual todos os anos
não porque ele seja um tempo em que só se pensa em prendas e cabazes
não porque ele seja um tempo de comer e beber
não porque ele seja um tempo de euforia e solidariedade pequena
não porque ele seja um tempo de boas-festas e mensagens
não porque ele seja uma data politicamente correcta

***

Não gosto dele...

porque continuamos a infantilizar o menino, apesar do menino ter crescido
porque ao olhar para o menino como há dois mil anos o menorizamos
porque o trocámos pelo pai-natal vermelhusco e as renas
porque não olhamos as pessoas nos olhos, mas nas mãos
porque sorrimos sem alegria, amparados num sorriso amarelo
porque só nesta época nos lembramos dos da margem
porque esquecemos que marginais e marginalizados também são filhos de deus
porque não nos orientamos pelos símbolos, mas pelos bolos
porque a estrela já não brilha
porque os reis magos estão gordos e anafados e os camelos esqueléticos
porque não nos parecemos com o menino
porque já não há missa do galo
porque os pastores já não cantam
porque os anjos fugiram para as alturas altas
porque não olhamos para o menino como adulto como devíamos
porque atravessamos os anos e não nos tornamos melhores
porque somos pouco coerentes com o que dizemos
porque aconselhamos aos outros aquilo que nos faz falta a nós
porque não queremos ver o invisível que o visível nos quer mostrar
porque nos contentamos com um formalismo atávico e estupidificante
porque renunciámos à caridade
porque renunciámos à misericórdia e à compaixão
porque nos interessamos pouco pela justiça
porque abolimos o musgo e as ovelhas e substituimos a majedoura por uma casa
porque o burro não zurra e a vaca não tuge nem muge
porque dizemos querer ser uma coisa e investimos noutra
porque não queremos olhar o espelho das nossas limitações e debilidades
porque nos dizemos cristãos e gostamos pouco de cristo
porque nos importamos pouco nem ser parecidos com ele
porque cada vez há menos belém e mais nova iorque
porque somos ...


Gostava que o Natal voltasse...

à simplicidade e clareza das obras de misericórdia
do dar de comer a quem tem fome
do dar de beber a quem tem sede
do vestir os nus
do dar pousada aos peregrinos
do assistir aos enfermos
do visitar os presos
do enterrar os mortos
do dar bom conselho
do ensinar os ignorantes
do corrigir os que erram
do consolar os tristes
do perdoar as injúrias
do sofrer com paciência as fraquezas do próximo
do rogar a deus por vivos e defuntos.
Jj-a

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