domingo, 22 de agosto de 2010

O homem dos braços abertos

(Hoje, quero partilhar convosco um pedacinho da minha peregrinação a ARS. Além de não garantir a qualidade da teologia, espero não estar a abusar).


Dia 30.JUN.2010. São 18H00. Estou sentado no coro da igreja da Misericórdia em Ars. A tarde é suave e o silêncio e a penumbra envolvem todo o espaço. A luz é coada pelos pequenos vitrais e reforçada por lâmpadas de presença. Em Ars tudo gira em volta de Deus e do “petit curé”. Omnipresentes: eles aí estão na basílica de São Xisto, na igreja da Misericórdia, na pequena capela da Providência, sem esquecer a velha casa do santo curé.
No cimo da igreja, junto ao altar, encontra-se um Cristo (bizantino) de braços bem abertos. Ao longo da tarde fui caminhando com ele, devagarinho... até compreender que a misericórdia é o maior desafio que se coloca aos seres humanos e se resume a dois braços abertos para acolher quem se aproxima, venha de onde vier e como vier. Creio não haver virtude mais bela que a misericórdia, corporizada nuns braços eternamente abertos para abraçar quem se aproxima: seja um samaritano estrangeiro, seja um pródigo perdido no mundo, ou uma pecadora pública, das que nos precederão no reino dos céus...
Durante aquela tarde passaram os curas de clergy, calça preta e sapato brilhante. E, depois de uma genuflexão bem feita, retiraram-se apressados porque era hora de mais uma audiência.
Envergonhados e tímidos, aproximaram-se os pobres: simples, com uma mochila velha às costas, vestes sujas e amarrotadas, cabelos desalinhados e, no olhar dele, sentiram o carinho dos seus braços: choraram, sentaram-se e pediram ajuda... ele desceu da cruz, acariciou-lhes as mãos e o rosto e mandou-os em paz.
Vieram ainda outros a correr, com muito pouco tempo para o visitar (dispunham de poucos minutos...). Quando o homem de braços abertos acabou de libertar a mão direita para os saudar já tinham desaparecido, porque o motorista os esperava, nervoso, na esquina da igreja...
É assim o pano e as linhas com que se costura a nossa existência. Seguramente: não somos túnicas inconsúteis...
Por fim vieram os simples (crianças, jovens e idosos). Fizeram barulho, riram, falaram alto, correram, choraram... e o senhor, o dos braços abertos, ficou com eles mais tempo, porque eles também lhe deram tempo. Desceu da cruz, aproximou-se suave e sorridente e eles não tiveram medo. Depois de os ouvir, deu-lhes o beijo da consolação e o abraço da misericórdia. Depois, voltou para a cruz e abriu, de novo, os braços. E lá continua à espera (em tantos sítios) de quem se queira aproximar... Eles saíram: alegres, serenos e leves e deus, lá do céu (nome da sua casa), sorriu terno no rosto do homem dos abraços abertos... Jjesus -amaro

Uma Benção especial do Papa Bento XVI

O Santo Padre saudou ainda os diversos grupos de fiéis presentes na audiência geral, entre os quais peregrinos provenientes do Brasil e de Portugal... (ver mais em...)
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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Amizade


Temos por casa comum a SVD. Andámos por Tortosendo, Guimarães, Fátima, Lisboa... criámos laços fortes através de experiências, trabalhos, brincadeiras, jogos, memórias, situações, ajudas, confrontos, discussões... e restou aquilo que prosaicamente chamamos amizade...

Há dias dei comigo a pensar neste conceito e no que o torna tão prazeroso. O que é que verdadeiramente o alimenta e o torna em algo único na vida (nas vidas). Porque nos tornamos amigos de uns e não de outros... em processos tão iguais no tempo, nos espaços, nos contactos, nas relações?... Porque dizemos, alguns, que os amigos são poucos e se contam pelos dedos de uma das mãos... enquanto outros se orgulham de ter “montes” deles... Como surge e caminha este processo de aproximação? Como diria santo agostinho: se não me perguntarem, eu até sei... mas se me perguntam, coço a cabeça!
Tenho acompanhado com interesse o nosso Sabor da Beira. Tenho sentido que se transformou num espaço interessante de cruzamento de memórias, de caras, de opiniões, de testemunhos, de recordações, de boa disposição, de proximidades... e também de amizade. O que é óptimo...
E o que é preciso para criar, manter e alimentar uma amizade? Descobri que não é preciso muito: o criar acontece, nem se sabe bem como e muito menos porquê. Manter e alimentar? É ir passando e estar! Nem vezes de mais... para que cada vez seja um acontecimento gozoso e desejado; nem de menos... porque a distância, no tempo e no espaço, apaga a memória e não há amizade sem memórias. O processo aprofunda-se em momentos especiais, aos quais não se pode faltar: as celebrações e as perdas. Sobretudo a estas últimas, pois nas primeiras, normalmente, há muitos candidatos. Diria: por cada celebração, duas ou três perdas. JJ-Amaro