quarta-feira, 28 de março de 2012

Co-produção Lux Mundi - Sabor da Beira

Limitar a nossa imaginação é uma das características do homem moderno, tem os meios mas prefere comprar tudo feito. Vejam só como os nossos filhos se divertem actualmente? Provavelmente sem um brinquedo, na nossa concepção de brinquedo. É mau?... é bom?

Mas tudo isto para dizer que sem termos combinado nada, eu e o Daniel Reis combinamos publicar a entrevista que o Daniel fez ao António Ramos Pinto, aquando do encontro em Tortosendo, no Jornal e no Blog em simultâneo. Vamos ver no que resulta! Não é por certo uma inovação, mas para nós, praticado e feito por nós, é uma novidade.

Aqui vos deixo o registo videográfico da entrevista publicada no Lux Mundi.

sábado, 24 de março de 2012

A QUANTOFRENIA



 F. Barroso

João José Cochofel - 1988
Não sei se já se aperceberam, mas a quantofrenia está a enlouquecer-nos. Convirá talvez dizer, para aqueles que deixaram de estudar à saída da escola, seja primária, secundária ou superior, que “quantofrenia é uma visão unicamente quantitativa, na qual toda a concepção das qualidades desaparece”. O que importa são os números, não a realidade que representam.

É uma moda importada, porque modas nossas temos poucas. O Fado, património imaterial da humanidade e a Saudade, um consolo genuinamente português, visto que os outros povos são incapazes de a sentir.

A quantofrenia cheira à América. Deve ter sido inventada e desenvolvida pelos seus gurus da gestão empresarial, um qualquer Peter Drucker ou um Alfred Chandler, mas quem usa e abusa dela é a China. Basta lembrar a diversidade da quinquilharia que vendem ao Ocidente e a sua qualidade intrínseca.

Em Portugal entrou pela manifesta necessidade dos políticos que, a propósito de tudo e de nada, têm de apresentar sempre uma percentagem. É o desemprego a subir, é o défice a derrapar, são as exportações a crescer… Daí a ter passado a toda a sociedade e penetrado todos os sectores da Administração foi um ápice. Estendeu-se de igual modo tanto ao sector produtivo (empresarial) como improdutivo (educação, segurança social, defesa, entre outros), tendo levado à imprescindível necessidade de avaliar toda a gente, desde o motorista ao director. Com objectivos, indicadores de medida, critérios de superação e quotas. Nem os professores escaparam. O clero, esse, mantém-se imune a este desvario, mas tão só pela falta de concorrência (cada vez menos para tão vasta messe) e incapacidade de aferir a percentagem de salvação das almas.

O pessoal anda desanimado, triste e salamurdo. E o pior é que o desânimo está a alastrar a nichos de mercado em que era impensável vir a verificar-se. Não é que por puro acaso vim a saber que o Sá Leão, jovem empreendedor, empresário de sucesso e realizador dos melhores filmes porno nacionais, (que não devem ser visionados no período Quaresmal) também introduziu o sistema de avaliação de desempenho por objectivos às actrizes? Sabem qual o critério de superação, que quando atingido, equivale a manterem o posto de trabalho? Permitirem, em certos enredos mais complexos e inebriantes, três instrumentos em simultâneo dentro do corpinho…Ora, é óbvio que tal situação prejudica o diálogo. As moças ficam com os nervos em franja e mesmo quando gemem, de prazer? parece que a todo o momento podem desatar numa enorme choradeira.

Como vêem até aquilo que o ignaro povo chama de vida fácil, se está a tornar asfixiante por causa da concorrência brasileira e de leste. É este o nosso mundo, desde que se tornou uma aldeia global.
A qualidade é na verdade outra coisa. É claro que é importante quantificar. Sem, todavia, descurar a qualidade e saber para que fim quantifica. Acham que se se quantificasse com qualidade o grande Lehman Brothers teria falido pouco depois de ser avaliado com um banco seguro e se verificaria a ruína da Goldman Sachs e do Morgan Stanley, que esteve na base da enorme crise financeira que está a varrer todo o Ocidente? Se tivessem avaliado com qualidade as necessidades dos portugueses o investimento iria sobretudo para estádios de futebol e auto estradas, umas ao lado das outras?

E depois há coisas que não se podem avaliar. A incapacidade resulta da sua própria natureza. Como é que se avalia a intensidade do prazer do primeiro amor? Como é que se avalia o calor do coração, ao beijar um filhote quando antes de deitar, nos vamos assegurar se tudo está sossegado e ele dorme como um anjinho?

O homem e o antropos-economico
Este modelo de sociedade que o nos impuseram, de pressão permanente, pela competição quotidiana com os outros, mesmo quando a nossa natureza é de cooperação ou contemplação e pela falta do horizonte que nos roubaram está a desagregar-nos, a roer a nossa coesão.

Como dizia António Sérgio: o que faz de um qualquer número de pérolas um colar é o fio invisível e interior que as une, que as liga a todas numa certa ordem, segundo uma determinada configuração

Como vos digo eu, aqui e agora: temos de recentrar-nos. Dar menos importância à exterioridade e reaprender a ver o outro como igual e não como rival. A não deixar que o fio invisível se rompa. Dizendo de outra forma: a partilhar a selada como já faz o amigo Casimiro Barata.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Jantar da Tertúlia - 30 de Março - O Jantar + biológico



Jantar da Tertúlia Sabor da Beira. Garantido para a ementa "selada" de alface da horta do Casimiro, tomates... e muito convívio. Provavelmente iremos para a garoupa no forno, manifestem-se! Uma vez que muitos falaram do pitéu divinal! O encontro começara pelas 19:30h.
Podem também dar um salto ao FB e deixar o vosso comentário! O que acham da horta do Casimiro?


Inscrições:
  1. Casimiro Barata
  2. António Rui Dias Barata
  3. Henrique Nunes
  4. Zé Martins
  5. Fernando Carvalho
  6. Eduardo Rego
  7. Artur Santos
  8. Nuno Oliveira
  9. Vitor Baptista
  10. Daniel Reis
  11. José Freire
  12. Ricardo Figueira
  13. Carlos Manso
  14. Francisco Barroso
  15. António Lobo da Silva
  16. Nicolau Marques

quinta-feira, 8 de março de 2012

Na Estrela, até aos limites…



José Teodoro Prata

O autocarro parou na entrada do bosque de bétulas, aos pés do Cântaro Magro. Metemos as mãos na água fresca do Zêzere ainda menino e fomos caminhando para o interior, extasiados com a paisagem.
No final do parque, o terreno começava a subir e o passeio tornou-se mais difícil, por entre matos altos e pedras aguçadas. O Pe. Jerónimo parou e disse:
“Quem quiser, vem comigo a pé até à estrada que passa além, no alto. O autocarro espera lá por nós.”

Cantaro Magro
A provocação era irrecusável. Embora ele fosse filho e irmão de quem era, não lhe conhecia pergaminhos que não fossem livros e missas, tirando talvez umas investidas semanais contra as balizas adversárias. E ainda uma paixão total pelo Benfica que, em todo o caso, não exigia a ele destreza física.
Habituado às andanças na serra, fui logo atrás dele, eu e umas duas dezenas de colegas. Subimos por uma passagem estreita entre encostas rochosas a pique e chegámos a uma zona plana, parecia o fundo de uma malga partida na borda, por onde tínhamos entrado.
Em lado nenhum estrada ou autocarro, isso ficava lá num cimo ainda invisível! Continuámos, pois o nosso guia mal parara e já nos ganhava dianteira. Subimos, subimos, agachados, avançando com o impulso da força que fazíamos agarrados nos matos e nas pedras. Mal nos atrevíamos a endireitar o corpo, pois parecia que caíamos para o precipício lá no fundo.
Não parávamos, pois temíamos ficar para trás, o Pe. Jerónimo já lá ia à frente. Arfávamos de boca aberta, uma sede atroz! Mas um fio de água descia por entre tufos de ervas: deitei-me no chão, fiz uma covinha, esperei que a água aclarasse e bebi sofregamente. Depois continuei, agora de gatas, pois o meu medo de cair para trás aumentava na razão directa do aumento do declive.
Lembro-me vagamente dos companheiros que trepavam a meu lado: Manel Augusto, Chico Barroso e Ramos Silva. Talvez estes ou não, uns animavam os outros, para ninguém ficar sozinho.
Mais umas braçadas e já se viam as guardas da estrada e depois os nossos colegas. Chegámos, meio embriagados pelo cansaço e pelo entusiasmo de termos conseguido. Penso que foi no meu 5.º ano (9.º ano) e tenho esta subida a parte do Cântaro Magro no quadro de honra dos melhores momentos da minha adolescência.
Depois do almoço, natação na Lagoa Comprida. Novo desafio do Pe. Jerónimo: nadar até ao paredão da barragem. Alguns acompanharam-no e conseguiram (Chico Barroso, Maurício Melfe (Ferro)…), outros voltaram para trás, mas eu nem passei das margens. Sou terra, nada de água, nem ar.
No final, comentámos a pujança do nosso prefeito. O velhote (30 anos) tinha garra! 
Na Cabeça do Urso, um ou dois anos depois.
Da esquerda para a direita e de baixo para cima: João Rente (Estreito), José Bernardo (Peroviseu), José Teodoro (São Vicente),  Carlos Bizarro (Teixoso), José Augusto (São Vicente), Virgílio de Matos (Peso), Elísio Gama (Maxial da Ladeira), Ramos Silva (Vale de Espinho), Francisco Barroso (São Vicente), Manuel Augusto (Aldeia da Ponte), José António (Rochas de Baixo) e José Antunes (Maxial do Campo).