quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A alegria do Evangelho é para todo o povo


«Fiel ao modelo do Mestre, é vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo. A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém; assim foi anunciada pelo anjo aos pastores de Belém: “Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo” (Lc 2,10)» 


Papa Francisco, exortação apostólica A Alegria do Evangelho, 23 


excerto e imagem da mensagem de natal do Pe J Antunes, svd

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O sacrifício do burro e da vaca

Maria estava com um olho no menino e outro em José, não fosse ele deixar esturrar o suculento e borbulhante guizado, que a fogueira cozinhava em enorme caldeirão (não havia panelas a pressão), em fogueira a lenha de oliveira velha e pinheiro manso. O petisco, saboroso e bem cheiroso, é o resultado do abatimento da vaca e do burro, que José  Maria tinham encontrado na gruta. José, com a pachorra que se lhe conhece, mexia o caldeirão com uma trabalhadíssima colher de pau (puro artesanato) os restos mortais da vaca e do burro, pois a fome e a miséria eram tantas, naqueles tempos de crise, que os dois pobres nazarenos, em viagem de recenseamento a Jerusalém, não tiveram alternativa senão sacrificar os quadrúpedes de modo a amenizar a época natalícia e a torná-la, pelo menos, um pouco mais agradável ao estômago.
Sabemos que uma jovem mãe precisa de se alimentar bem para que o leite não falte ao crianço, mesmo que ele seja o menino Jesus. Que, aliás, dele bem precisa, pois já lá vão tantos anos desde o seu nascimento, que já era tempo de subir de categoria sócio-antropológica... pelo menos para jovem adulto. Mas não! Não há maneira de isso acontecer... Ou será que tem de acontecer primeiro em nós, porque nós também andamos cá bem para trás?
José sacrificou o burro e a vaca porque estes tempos de crise o obrigaram. Oxalá não apareça algum milionário (dos parvos) a reivindicar a posse das bestas e uma indemnização por roubo e outros prejuízos.
Mas ali não havia, sabemo-lo, alternativa: ou morria o burro e morria a vaca ou morriam os inquilinos “okupas” da gruta . “Okupas”, à espanhola! Claro!
Quanto ao comer carne de burro, para nós Portugália nem é assim tão estranho. Há anos, ali para as bandas de Torres Vedras (Oeste) foram abatidos para alimento - são alimento corporal - umas centenas de burros. Que, depois, foram comercializados em bons talhos da capital (Lisboa) e bem confecionados em amplas cozinhas de hotéis de  vária estrelas. O hotel-gruta de Belém só tinha uma estrela. Já se vê que era para o fracote em “comparança” com os de cinco (que já são muitos).

Quanto às vacas, o abate acontece todas as semanas, mais velhas ou mais novas (as novas chamam-lhes vitelas – um nome bastante feio!) E, embora eu tenha pena delas: nada posso fazer, pois vem logo os fiscais com as leis da procura e da oferta. Já digo, uma péssima invenção do nosso omnipotente e omnipresente mercado. Que raça de senhor tão poderoso e malvado!
Mas deixemos o menininho em paz, pois a carnuça é só para os adultos de denta dura (Maria e José). Ele pequeno ainda só bebe o leite que Maria produz e lhe dá. José está bem, pois as proteinas permitem-lhe conservar a saúde. Aqui há uns anos ele andava um pouco reles (doente), pois faziam-no tão velho que não admira que nesta época do inverno se sentisse um pouco apanhado pela gripe e constipações. Até porque na altura não havia Cêgripe!
Mas vamos deixar a coisa por aqui. Se for preciso vamos lá ao tribunal ser testemunhas abonatórias de José e Maria, que o pequeno ainda não pode ser importunado, pois não tem a idade canónica para assumir responsabilidades.

Com um caricioso e terno abraço nataleco para todos os que ainda são capazes de se deixar encantar por um menino, um casal pobre e dois quadrúpedes.


J.J.AMARO