sábado, 6 de fevereiro de 2010

Rescaldo da incursão às terras do Dito Cujo

(Confesso-vos uma enorme preocupação, quanto à saúde dos meninos, em consequência da comezaina e de uma quase secreta aventura nocturna, pelas capelinhas do Rei Medronho)

Daniel Reis
 
Saudações verbitas, ilustríssimos camaradas.
Quase a uma semana de distância (mea culpa, mea maxima culpa), aí vão umas anotações para meia dúzia de parágrafos, apenas na intenção de saber se estão todos bem e se a saúde dos meninos foi posta em causa pela comezaina, a visita às capelinhas da medronheira e o mais que houve de animação, na esplêndida viagem aos confins do Moradal, no sábado passado.
Tudo isto porque, se já havia motivos de preocupação ao ver o estado de alguns no regresso da festa (por mim falo…), muito mais preocupado fiquei ao ler, aqui, que uma boa parte da rapaziada ainda continuou, noite fora, a prestar alegres tributos ao Rei Medronho, pelas tascas das redondezas. Porém e como não há notícia de baixas consideráveis, passados estes dias todos, acredito que tudo esteja nos conformes e a ressaca não tenha deixado sequelas ruins.
Por mim, tenho ainda a informar-vos que já acabei os maranhos e que eles me souberam muito melhor, que os experimentados à mesa em Oleiros. Desconfio, de resto, que nós próprios fomos os responsáveis por alguns não terem apreciado este petisco regional, como ele merece (o mesmo acontecendo quanto ao Dito Cujo estonado), pela simples razão de nos termos atrasado cerca de uma hora para a função. É que, tanto o cabrito, como o maranho requerem facas e garfos em acção, mal eles saem do lume. E não uma hora depois.
Os que trouxe e petisquei em Odivelas, são a prova do que acabei de escrever. Ainda quentinhos e mal saídos de uma leve fervura, revelaram-se deliciosos. Desculpem não vos ter convidado, mas a palhota é modesta para as finuras de V. Excias. E também presumi, que ainda estivessem empanturrados e em plena ressaca.
Dado o essencial do recado, devia fechar imediatamente a prosa e regressar ao meu dia a dia, isto é, aos doces prazeres do «farniente». Concedo porém, antes, um esboço de excepção, porque o nosso estimado Vítor, mordomo deste jornal, seu paginador e zelador, está carente de fotos das festas e eu tenho duas (que sejam, apenas) para lhe enviar.

Uma, dá nota da animação a cargo do Freire, do Maurício e do Prata. Têm de reconhecer que eles se revelaram em forma e actuaram à maneira. E isso não passou despercebido à minha mulher (Lia), apesar de ser esta a primeira vez em que participou nas nossas iniciativas. Posso garantir-vos que gostou muito, em particular do convívio com a meia dúzia de outras verbitas de adopção, que fizeram a viagem de camioneta. São dela as fotos.
A outra documenta um momento tocante: o reencontro com o Antero Urgeiro (irmão mais velho do Quim, do meu curso), que apareceu pela primeira vez nestas andanças. Como ele é de uma aldeia (Barroca do Zêzere) vizinha da minha e para lá voltou depois de se reformar na banca, vemo-nos por lá, de vez em quando. Mas em iniciativas da AAVD, ou do nosso blog, foi a primeira vez. Ainda bem que eu apareço na foto desfocado, pois só lá estava na condição de ouvinte e maravilhado. É que tanto o Zé Quelhas (ao meio, de frente) como o Antero (à direita) pareciam enciclopédias, da nossa vida em Fátima e no Tortosendo. Eles recordam-se dos nomes (e completos!) dos alunos todos do curso deles (um ano à minha frente) e de outros mais novos ou mais antigos. E, então, o Urgeiro, esse até recita por onde andam este e aquele, que julgávamos desaparecidos. E mais outro e aqueloutro. É um espectáculo. Dois exemplos: por eles soube que o António Dias Gama, de Bogas de Baixo, é advogado em Lisboa (agora até já disponho da morada e telefone) e está em plena actividade; e o Henrique, de Janeiro de Cima, está vivinho da costa e anda há anos pelo Canadá.
Mesmo que não tivesse contado com a bela companhia de todos vós, ilustríssimos camaradas, só este longo rememoriar, à mesa, teria justificado a ida a Oleiros. Bem hajam todos. E com esta me vou.
Se alguém estava à espera de uma ‘reportagem’ sobre a peregrinação às terras do Dito Cujo, assinada pelo ‘Je’, tire daí o cavalinho, que se molha, de certeza. É possível que duvidem, ou mesmo descreiam, do meu actual programa de vida: não fazer nada. Ou melhor (e desculpem, o palavrão, as almas mais sensíveis, que estejam ainda a ler): «Não fazer a ponta de um corno».
Ora, sendo este um programa para levar a sério e que pretendo cumprir com todo o rigor e empenhamento, é óbvia a sua incompatibilidade com qualquer esforço de imitação de uma reportagem. O tempo da activa, do titular da carteira profissional nº 200 (no universo de uns 4.000 jornalistas), já lá vai.
Qualquer outra nota relevante, de que me tenha dado conta na excursão, talvez se possa ler no próximo Lux Mundi, o jornal da nossa AAVD. É que, hoje por hoje, só lá me permito o luxo de fingir de repórter. E atendendo ao altíssimo salário, que me paga, o Director Armindo Cachada (que também veio do Minho em romagem às terras do Dito Cujo) é o único a poder exigir-me a exclusividade.
Um abraço, malta. E até à próxima, no sítio do costume, a Valenciana.
 
Daniel Reis    

2 comentários:

  1. É um "doce" desfrutar de tão elegante prosa, caro Daniel. É mesmo para saborear! Pena que te tenhas entregue a tal programa de vida que nos priva de continuar a gozar! Oxalá tenhas umas recaídas esquecidas...

    Posso, entretanto, informar que os "tertúlios" da noitada estão em forma, como já tive oportunidade de me assegurar... Prontos para outras que venham!

    Um abraço,

    Fernando Carvalho

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  2. Caro Daniel,
    Estou como o Fernando... é um deleite ler a tua prosa, (nada de reportagens!). É como o correr da água na Ribeira da Isna, translúcida, fresca, batendo nas primeiras pedras, junto à Mãe d'Água, atirando salpicos que nos molham e escorrem pela cara para serem recolhidos pela língua ao correr dos lábios e nos deixam a boca fresca!

    Não me deixes secar a boca!

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