Por: Francisco Barroso
A linguagem, que nos permite expressar os pensamentos e os sentimentos entendida, em sentido amplo, como um conjunto de sinais que permite a comunicação entre os homens, foi de longe, digo eu, a maior invenção da humanidade.
Foi a descoberta e o desenvolvimento da linguagem que permitiu ao homem criar uma poderosa e sofisticada civilização que hoje felizmente pode ser usufruída nos países ricos e que nos países pobres (pese embora a diferença abissal entre eles) é também imprescindível à transmissão da sua cultura (divindades, tradições, técnicas de caça ou de procura de alimentos…). A linguagem, aqui no sentido de cultura, é no fundo a cola que une cada grupo, cada povo ou cada nação.
Foi a linguagem escrita que permitiu ao homem guardar, acumular e transmitir o conhecimento às gerações futuras permitindo um contínuo desenvolvimento. Newton teve disso plena consciência quando refere a páginas tantas:... se eu consegui ver mais longe que os meus antepassados, foi porque pus os pés nos ombros de gigantes, os maiores dos quais foram Descartes, Kepler e Galileu…
A linguagem permitiu aos Gregos antigos (que os novos andam de rastos como nós à procura dos euros que de um momento para o outro começaram a esfumar-se), colocar pela primeira vez, no mundo ocidental, grandes questões filosóficas, para as quais ainda hoje andamos à procura de resposta. Permitiu aos Romanos criar as bases de sistema jurídico que haveria de perdurar em parte até aos nossos dias e permitiu o florescimento das artes do romance e da poesia com que nos deleitamos nas horas vagas, em que não estamos em adoração às novas divindades: a televisão e o computador.
Desde cedo se lhe reconheceu uma importância tal, que foi criada uma disciplina cujo conteúdo consiste na arte que expõe as regras para bem dizer ou falar eloquentemente, que dá pelo nome de retórica, com a qual já Aristóteles se preocupou e desde tempos imemoriais tem ocupado lugar de relevo na educação dos homens.
Em Portugal, isto já não ia bem, mas com a necessidade de elevar os indicadores estatísticos para níveis aceitáveis na Europa, a nossa Escola Pública de Retórica, que fica ali, como sabem, para S. Bento, num edifício conhecido como Assembleia da República, a par das outras escolas começaram a ir de mal a pior.
Para mostrar, a toda a gente, indicadores de que nos pudéssemos orgulhar, as escolas tradicionais inovaram no sentido de passar a sua função principal, de transmissão de conhecimentos, para a impossibilidade de chumbar os alunos. Com tal medida, os níveis de escolaridade têm efectivamente aumentado na mesma proporção da ignorância geral tendo sofrido, ultimamente, um impulso vital com as Novas Oportunidades.
Quanto à Escola de Retórica, passam horas em acesa discussão com os do Governo a dizer que vivemos no melhor dos mundos e os da oposição a contradizer, que se o Governo fosse deles o nosso mundo seria ainda melhor.
Este tipo de retórica tem como finalidade impressionar o estrangeiro, principalmente Bruxelas (a nossa última teta, desde o ouro do Brasil) dando-lhes a ideia de que isto vai devagar, mas vai e não fora a crise global seriamos hoje quase os maiores.
Este discurso já ninguém (cá dentro) leva a sério, porque a única parte em que se cola à realidade é no que diz respeito ao aumento dos impostos e isso já nem era preciso dizer porque todos temos experiência própria.
Mas isto não seria mau de todo se eu não tivesse provas iniludíveis que a moda está a alastrar descontroladamente a outros sectores. Aqui as deixo.
Eu, que não tenho onde cair morto, como vocês, aliás, sabem. Vivo do meu salário, tenho três filhos na Universidade, comprei uma casa que estou a pagar em triplicado ao banco, pago do sal à água e não é que em Dezembro último recebi uma carta dum tal João Leandro, Presidente do Conselho Executivo da AXA, que entre outras coisas me diz: num vasto leque de parceiros à sua disposição, iremos dar-lhe a conhecer benefícios específicos que temos só para si que é Cliente da AXA. Sempre a pensar na sua comodidade e bem estar…
A 21 de Maio p. p. outra carta, esta do Sr. Armando Santos, da Direcção de Marketing da Caixa Geral de Depósitos, nestes termos: Exmo. Sr. F. Barroso. O Serviço Caixa Azul proporciona-lhe um atendimento personalizado, colocando à sua disposição um Gestor dedicado que lhe apresenta soluções de conveniência e optimização do tempo desenhadas para tornar a sua vida mais fácil…
Que sorte a minha, pensei. Mas tenho andado a matutar nisto e das duas uma. Ou são os meus amigos que andam para aí a mover influências a meu favor ou então sou mesmo uma pessoa abençoada, como diz a minha mãe.
Todavia, o meu espírito não se tranquilizou e seguindo o conselho do poeta Gedeão analisei a quente, a frio e ao lume e de todas as vezes deu o que é costume. Aquilo a que eu chamo: o palavreado balofo de uma sociedade à beira do abismo.
E mais não disse, descalçou as luvas…
Pois é meu tio, é muito triste constactar que aqueles que tanto lutaram pela democracia, e os outros que não tendo lutado apenas por serem ainda crianças mas que experimentaram o Estado Novo e viveram a conquista da liberdade, mais não tenham feito que subir ao poleiro e enfiar com este País no esgoto. Eles sabem bem que nos vão distraindo com pão e circo. E sabem ainda melhor que se engana mais facilmente os ignorantes. Matêm a esperança de que a areia que nos vão atirando aos olhos,com a sua retórica, nos vá mantendo cegos. Margarida Gramunha nascida em 1977
ResponderEliminarÓ Xico,
ResponderEliminardás à pena e de que maneira, (não dás pena nenhuma)
Eu cá sem a tua veia, vou dando à enxada...
E olha que se pusessemos uns quantos que andam pela asembleia da República com a enxada na Mão...
(mesmo os alentejanos)... isto estaria, bem melhor...
Um abraço e aproveita o teu estado... para produzires... mais...
AH...
Cuidado com as cavalarias...
e com a força do Cão...
Casimiro Barata