sábado, 8 de junho de 2013

Mas que bela caldeirada aviada em Távola Redonda!

Daniel Reis

Annuntio vobis amici mei que estou prestes a decair na prática de uma razoável inutilidade.  O que não é bonito, devem presumir, para um senhor da minha idade e do meu estatuto, cá no bairro social dos arredores da grande cidade. a coisaté poderia ser considerada mais grave, se avaliássemos apenas pelos seus  dois ângulos de base. O primeiro é que, sendo tal acção desprovida de utilidade visível (ou configurando apenas uma utilidade residual), não teria verdadeira justificação eu envolver-me, assim, nela. O segundo é ainda mais forte e contundente e decorre, directamente, do meu estado e predisposição actuais. Ou seja: continuando firmemente agarrado ao tal programa político e filosófico de vida, que me inibe de fazer, sequer, a ponta de um corno, é óbvio que me ficaria muito mal, por contraditório, dispender esforços físicos(isto de dar ao dedo tem que se lhe diga…) e exigências intelectuais (ou não sabiam que pensar, cansa?) na prática efectiva de uma inutilidade.

«Mas que inutilidade é essa, de facto, se tanto te atrai e te põe à beira da cedência?» - perguntarão os meus amigos, que ainda sigam o fluxo deste arrazoado. «E que conversa é essa, ainda por cima embrulhada em filosofia barata, em vez de desembuchares já?», dirão, porventura mais irritados, outros já menos amigos, a esta hora.

Pois é. Como algum desses meus intrigados amigos deve chamar-se Ricardo, Luis GarciaXico Barroso, NicolauA. Monsanto RegistoFernando Carvalho, Artur Barata ou Vitor Baptista, o facto é que eu me sinto intimado a dar-lhes de imediato uma justificação. E que, no mínimo, seja plausível, pois ninguém deste clã vai em cantigas nem é facil de enganar.

Mas antes tenho de também eu perguntar-lhes se ainda se lembrade uma certa caldeirada, bem servidabem aviada e ainda mais bem enfardada, há justamente uma semana, à volta de uma certa Távola Redonda? Não, não foi nas terras do Rei Artur, essa distante Bretanha de nevoeiros, duendes e lendas, mas sim na Caparica ali à mão, de mar chão e vistas largas, para lá do pôr do sol do entardecer melancólico. É que eu já mal me lembrava… ou fingia que me esquecera, para escapar ao compromisso assumido com o clã, no sentido de aviar uma prosa de complemento à reportagem do repasto, neste nosso bem amado ponto de encontro virtual.

O problema é que, passado o fim de semana -- um longo sábado e um pachorrento domingo -- na posição horizontal do meu sofá principal, a ver bola, muita bola (até a brasileira serve, agora que a portuguesa se saldou por um sétimo lugar para uns e um triplo êxito para outros, obtido nos descontos, como bem sabem…) cheguei a segunda-feira de caneta afiada e… vamos a isto que se faz tarde e o Vítor já anda por aí a dizer que eu prometo escrever e, depois, nicles.

Nesse interim, abro o Sabor da Beira e, no link ‘Jantar tertúlia’, que vejo eu? Nada mais, nada menos que um bacanal de fotos, uma dúzia para aí delas, com pôr do sol e tudo, mesa farta e caldeirada a quase saltar do prato, de tão real, tão lindamente fotografada pelo mais que emérito Vítor Batista! E, aí, desabei absolutamente, do alto da minha prosápia de repórter do paleio (ou seja, do palavreado) para exclamar: ‘Oh quão inútil é a tarefa a que te comprometeste e que seria a de embrulhar as fotos do Vítor num laçarote de palavras!’.

Se havia coisa que elas dispensavam, era exactamente o embrulho, pois brilhavam por si próprias. E o bom do repórter fotográfico (que, ainda por cima, faz o boneco e enfia-o logo no blog…) até lhe acrescentou logo legendas que dispensavam qualquer outro aditamento. Por tudo isso, admiti logo desistência. Depois, até o «mail» me empurrou para a nega, já que esteve três ou quatro dias supenso, para travar um hipotético ataque viral, não sei de quem. Mas chegada a sexta-feira, uma exacta semana depois do ataque dos nove cavaleiros esfomeados à Távola Redonda da Caparica, repensei o caso e, enquanto o Cristiano Ronaldo se esfalfava na tentativa de marcar um golo á Rússia, eu propus-me mesmo avançar na prática desta razoável inutilidade, ainda que para isso tivesse também de me esfalfar.
E aqui me têm pois, para concluir que, se uma foto vale por mil palavras, como me ensinaram lá pelos jornais que frequentei, era-me materialmente impossível acompanhar o ritmo do reporter encartado do Sabor da Beira, um tal de Vítor de Cebola, não sei se conhecem.

Não me retiro porém, pelo burladero, sem antes anotar duas ou três coisas que me parecem relevantes e que remanescem da referida jantarada na Costa da Caparica.

A primeira é que fomos comer ao Barbas, sob recomendação do Fernando Carvalho, que de hotelaria e comes e bebes não pede meças a ninguém. E, como é óbvio, eu lagarto empedernido franzi o sobrolho e perguntei se não havia nada melhor que a casa desse lampião de primeira fila. Porém, face ao aparato das iguarias, logo coube fazer mea culpao cenário da coisa resplandescia, entradas a dar com um pau e todas magníficas (só as não arrolo para não despertar o horrível sentimento de inveja, a quem não foi…). E o Barbas, ele próprio, veio confraternizar à mesa connosco, provando uma vez mais ser muito mais simpático do que, porventura o pintem. E em especial com os lagartões do grupo, que eramos poucos, mas bons, como já deveriam saber das lides indígenas da bola.

A segunda é que sendo nós menos que os esperados, em vez da habitual mesa rectangular, pudemos abancar numa belíssima mesa redonda e assim falarmos face a face, sem carecer de gritarias, alongando mais facilmente o convívio noite fora. Se fossemos 12, a invocação da Távola Redonda viria de imediato à baila e o pobre reporter, à míngua de imaginação, até era capaz de lhes chamar cavaleiros. Mas lá porque éramos só noverevolto-me eu agora, não se deixe de insistir na Távola Redonda. Concedo não falar mais de cavaleiros, mas não me proibo de nomear o Xico Barroso como o Lançarote do grupo. Ou Lancelote, se ele preferir.

A quarta nota é para lhes garantir, prezados amigos meus, que aquela caldeirada de peixe – à base de tamboril (e as ovas do dito, que maravilha!), safio e raia -- era do melhor que já me passou pelo goto. Tão boa que, prevenidamente, lá arrematei uma dose dupla para trazer para casa. E, sabem que mais? Além de barata, cumpriu a sua função no dia seguinte, com dignidade e galhardia. Aliás, o Barbas fez um preço mais calhado a sportinguistas falidos e em baixa total de crédito, do que a impantes benfiquistas com os mui falados sucessos da época ainda a reluzir.

Por fim, isto é mesmo imprescindível dizer-se, é que só tarde percebi porque razão, em casa de lampião, se podia comer uma caldeirada daquelas. É que o Chefe, o grande Chefe Virgílio, é do Sporting! Como eu e o Ricardo bem pudemos atestar ‘in loco’ e o Vítor também registou para a posteridade, entre a dúzia de fotos da coisa que tornaram absolutamente inútil o arrazoado que ora, prestes, vouterminar. A propósito: vou nas 1.200 palavras, o que nem para foto e meia do Vítor dá. Uma inutilidade, de facto, tanta prosa. Sorry.

Beijinhos a quem não participou nesta nossa tertúlia de Maio (mês de 31 dias, como sabem), na intenção de que se preparem para a próxima que, segundo os habituais organizadores (Lancelote e seus pagens) será igualmentede arromba.  

3 comentários:

  1. Calculo a violência que foi contrariar a inércia, mas valeu a pena e
    sei que acabou por te dar gozo.
    Andava ralado, com medo que pudesse ser do picante e te tivesses despistado
    Arroja abaixo. É que nas terras do Rei Artur há muita relva fresca, mas em Odivelas
    é asfalto agressivo. Entendes-me Daniel? Ainda bem que estava enganado.
    Do manjar é melhor nem falar…
    O tratamento que nos deram foi uma grande prova pública de amizade ao Fernando Carvalho, quer do Chefe Virgílio, quer do próprio Barbas.
    F.Barroso

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  2. Esta era a fotografia que faltava, com os olhos da pena do Daniel. De nos deixar com água na boca!!!!

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  3. Olá, rapaziada. Agora mesmo regressado de uma semana nas berças, com um carrego atrás de cerejas da Malhada Velha e queijo de Bogas (não acreditam? pois fazem muito mal), maranhos do talho de Dornelas, azeite vário e coisas que tal, nomeadamente o célebre e mui celebrado serpão, a tal erva mágica, aqui estou eu face ao nosso bem amado blog e para conferir se não me expulsaram por tardar tanto a aviar uma prometida prosinha. É claro que também regressei com um trambolho no joelho desasado, e isso me incomoda. Mas não há-de ser nada, a não ser que os demónios da invejam se tenham unido, para me castigar por tanta gula. Dizia eu que estou de blog aberto e coração apertado. Afinal, só surpresas e (oh céus, há quanto tempo não ouvia música desta!) uns elogios da rapaziada. Obrigado, portanto, e dois reparos para encerrar. Quanto ao Xico, só lhe digo que não foi preciso ir praticar sku para a encosta da Arroja, pois o picante, além de tolerável, só afinou o chamado trânsito intestinal (sabiam destes conhecimentos científicos do Je?) em vez de o desestabilizar. por isso pode o senhor Barroso (ou será Lancelote?) ficar descansado.
    Por último, e para o Vítor, só tenho de lhe agradecer muito, e muito e, mais uma vez, muito. É que isso de esconder (espero que só temporariamente) as próprias e belíssimas fotos a pretexto (vão...) de deixar a prosa brilhar, é de homem e de amigo. Bem hajas, rapaz!. E, então, aquelas chamadas a verde, em especial a última, que gritava tanto e só SPORTING, estavam de mais. Continua rapaz, que vais longe! Já agora, desculpa os xingamentos por Cebola e um tal de Benfica, três vezes bem sucedido por estes dias. Bjns. Dani

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