quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Abílio e Jesus


José Miguel Teodoro
Boa descoberta, ZTP. E prosa boa de ler.
Duas notas (e uma extra) do meu caderno de apontamentos, sobre o Professor Abílio.
Primeira: Vi-me grego com o Latim, que só vim a finalizar com o hoje meu amigo AnónioVieira. Era impressionante, o professor Abílio –  além de outras habilidades, quando o pessoal tropeçava numa regra ou excepção, era ouvi-lo: “Gramáticas antigas, página X; gramáticas modernas, página Y”. Tiro e queda; lá estava; sem falhar uma, que eu saiba.
Segunda: Num dia de entrega das redacções de Português, um ano antes da grande guerra dos “Lusíadas”, a minha redacção ficou retida, facto que para este jovem recruta só podia significar asneira feita e reprimenda a crédito. “Falamos no fim da aula”, foi a sentença do Mestre; quando todos saíram, numa lástima de medo, aproximei-me disposto a sofrer o castigo. Afinal, pena menor: “A palavra bêbado não se usa numa redacção; podes usar outras”, e deu exemplos. “Outra coisa: continua a escrever, que escreves bem”. Na altura, não soube o que fazer com aquele torrão de açúcar, que agradeço ao Mestre, como afinal o que alguma vez eu soube de Língua Portuguesa.
Nota Extra: Provavelmente para desincentivar alguma tentativa de copianço, o Professor Abílio passava a imagem de que com ele era impossível. Ainda estava para nascer…E contava episódios de tentativas mal sucedidas, de cábulas surpreendidos em flagrante e castigados em conformidade. A mim convenceu-me da sua “invencibilidade” e quero crer que ele também estava seguro dos seus poderes. Um dia descobri que o Luís de Jesus copiava nos pontos de Português, como fazia nos pontos de todas as disciplinas. Apesar de se sentar na carteira da frente, a um braço de distância da mesa do professor. E nunca aconteceu nada. Por causa do apelido do Luís, acho eu: porque há apelidos que são verdadeiros seguros de vida. Ou não.

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