Tenho de vos confessar que tenho andado inconsolável. Esta coisa do corte no salário não é fácil de digerir. E não sei se é por solidariedade com a minha dor ou pelo facto dos meus amigos terem entrado já em período de meditação quaresmal, que o sabor da beira está ultimamente ao abandono.
Viva Portugal |
È verdade que há coisas que mexem connosco. Que nos revolvem as entranhas. È que uma pessoa comportar-se segundo os rigores da ética e da moral e depois ser tratado como vilão é duro de roer, mas o que lá vai, lá vai e o importante é que estou já restabelecido.
Diz-se que cada um tem o que merece, mas durante este período de desconsolo cheguei à conclusão que o povo português não merece a maneira como está a ser tratado pelos (i)responsáveis políticos. Andei nas trevas, admito, mas voltei à luz.
Como é possível que se trate deste modo um povo que deu novos mundos ao mundo. Um povo que em 50 anos passou de rural a tecnológico, como comprovam as taxas da União Europeia de utilização das tecnologias quer na gestão pessoal, quer na gestão pública. Quem mais rapidamente aderiu à utilização das ATM? Quem detém o recorde na percentagem de telemóveis per capita? Só gente com grande potencial e de grande sabedoria conseguiria uma evolução tãofulgurante.
Um povo que conseguiu criar um tipo de música genuíno como o Fado, para exorcizar os medos e lavar a alma, que ainda por cima faz bem mesmo a quem não percebe o encanto das suas palavras tem que ser um povo fantástico.
Gentes que defenderam a sua independência e autonomia durante oito séculos sem aceitar o jugo dos outros, a não ser num curto período (o Filipino), tem que ser um povo valente. Um povo que dizem deprimido, só porque não conhecem a sua natureza.
Quem é que deprimido, consegue ser o anfitrião afamado que é Portugal? Quem por esse mundo fora desenvolveu uma gastronomia tão gostosa e variada como nós? Quem como nós gosta de ficar horas à mesa a conversar à volta de uma garrafa de vinho, sem se lembrar que há horários a cumprir e trabalho para fazer. Ai que prazer não cumprir um dever…começa assim “Liberdade” de F. Pessoa. Lembram-se?
E depois há factos incontornáveis, como os resultados de um inquérito europeu recente, que vieram dizer ao mundo que as mulheres portuguesas são as que mostram maiores índices de satisfação sexual. Como é que isso era possível, se não tivéssemos níveis elevados de auto-estima, pois que a ciência médica associa a depressão à disfunção eréctil?
Deprimidos são esses alarves dos alemães, que em cerca de 30 anos arrastaram a Europa para duas guerras mundiais provocando milhões de mortes. Infelizes são os belgas que só comem almôndegas. Deprimidas são essas gentes do norte que vêm a Portugal à procura de sol, bom acolhimento, boa comida, bom vinho, sardinha e Zéze Camarinha…
É claro que não há bela sem senão. Ter um país cheio de auto-estradas e não ter dinheiro para gasolina e para portagens é duro de roer. Ter um país cheio de hotéis de luxo e não ter dinheiro para lá passar umas boas férias, não se aceita com facilidade. É certo que imensas vezes nos perdemos nos labirintos, não da saudade como diz Eduardo Lourenço, mas da burocracia…
A culpa é, como é fácil de ver, dos (i)responsáveis políticos, que quiseram estender o meu paraíso de Arroios ao resto do país, sem levar em conta as cenarizações do aumento da pressão da China e da Índia na aquisição de recursos naturais e o que isso significa para a velha Europa.
Apesar disso, gritem comigo bem alto: Viva Portugal.
F. Barroso
Ora porra, que já cá tardava! Isto andava tão parado, tão sem graça (ainda por cima, sem a habitual frequência das prosas do Zé Amaro...) que até eu encarei a hipotese de romper o compromisso de não fazer a ponta de um corno e escrever sobre as lamechices do casal de melros do meu quintal. Mas eis, se não quando, rebenta na ribalta do blogue a prosa luminosa do meu amigo Xico. Assim é que é, rapaz, finalmente regressado das trevas invernais. E, como sempre, para acertar, em cheio, na mouche. A ver se a coisa, agora, anima, por uma semana que seja, no aplauso ou no assobio ao teu prosar. Um abraço do Dani
ResponderEliminarconcordo plenamente com o comentandor anterior. isto de vir aqui todos os dias e não ter novidades já se estava a tornar monótono.è bom voltar à vida com a escrita maravilhosa do tico Xico. Já tinha saudades...
ResponderEliminarNão posso concordar mais com os dois!...
ResponderEliminarMas, olha lá Daniel, o que faz o casal de melros no teu quintal? Voam? e tua já voaste com eles? Até onde foste?
Um abraço,
Vitor