José Hipólito Jerónimo
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Estadia romana: época risonha
O tempo de Roma (1954/58) perdura na minha lembrança como uma época soalheira. Teve dois tempos ou etapas diferentes, ambas de dois anos: noviciado, seguido de juniorado. O nosso responsável principal foi, durante todo esse tempo, o Pe. Leone Haberstroh. Preparava muito bem as conferências que nos dava sobre os mais diversos assuntos, de modo especial, meditação ou oração mental, algo de completamente novo na nossa experiência. Novo e exigente. Com efeito, não era nada fácil, para um jovem de 17 anos, manter-se focado durante 45 minutos, refletindo e orando silenciosamente sobre um determinado tema.
À meditação seguia-se a Eucaristia. Ao mesmo tempo que decorria a missa comunitária, no altar-mor, celebravam-se eucaristias individuais, em diversos altares laterais, dado que, nessa altura, ainda não havia eucaristias concelebradas. Ossacerdotes no Colégio romano eram bastante numerosos.
À Eucaristia seguia-se logo o pequeno-almoço, em silêncio, exceto ao domingo e à quinta-feira. Após o pequeno-almoço, havia algum tempo pessoal que era aproveitado para voltar às pequenas camaratas ou quartos, fazer a cama e arrumar o que fosse necessário.
Boa parte do nosso dia passava-se na sala de estudo, simultaneamente sala de estar. A primeira hora era de leitura espiritual, sobretudo do famigerado autor Rodrigues, mas também de outros livros piedosos. Nessa altura, a Bíblia ainda não constituía alimento espiritual diário. Isso demorou mais algum tempo a chegar. Penso, aliás, que só os noviços portugueses tinham o Novo Testamento em grego e latim.
De manhã, havia ainda aulas de Latim, Grego e Alemão, assim como conferências sobre a história da Vida Religiosa, da Congregação do Verbo Divino e outros temas. De tarde, geralmente não havia aulas.
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A vida de um homem dá muitas voltas. Este saiu de S. Vicente da Beira e andou pelo Tortosendo,Guimarães, Fátima, Roma, Alemanha e Estados Unidos. Aqui sofreu os assassinatos de John Kennedy e Luther King. Regressado a Portugal, estudou em Coimbra, onde foi companheiro de turma do Artur Jorge e viveu a crise académica de 69. Depois, viajou com o Pedroto, o culpado de haver portistas a sul do Mondego. Na Polónia, sentiu que viria um João Paulo II e em África aprendeu o significado da palavra missionário.
As biografias são assim: retratam uma época, dispensando tratados fastidiosos.
Em qualquer casa SVD perto de si!
José Teodoro Prata
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