Julgo estar a ser justo ao dizer-lhes que, quase tudo o que tenho sido na vida como pessoa e muito do que fui como jornalista profissional, o devo à SVD e aos meus professores e colegas no Tortosendo (dois anos) e Fátima (três). E ouso admitir que comungue de semelhantes sentimentos a larga maioria dos antigos alunos, que dali saíram muito mais bem preparados para a vida.
Ainda hei-de averiguar, mas por ora desconheço quantos seremos, exactamente. Um cálculo indicativo e avançado pelo próprio Superior Provincial, P. José Antunes, aponta para cerca de três mil jovens, que terão passado pelos nossos três seminários, desde o primeiro curso no Tortosendo, em 1949, e do qual ainda estão vivos e se recomendam, entre outros, os dois Jerónimos de S. Vicente da Beira (o Francisco e o padre Hipólito), o Serra Duarte e o Apolinário Barrau. Aliás, este excelente quarteto usa ser presença regular nos convívios anuais da AAVD.
Partindo do princípio que apenas meia centena destes milhares de alunos terão emitido votos perpétuos e que foi, fundamentalmente, para formar missionários que os fundadores da SVD portuguesa aqui chegaram, há 60 anos, poderíamos levianamente concluir que o essencial da missão verbita, em solo luso, fracassou. Mas é olhando, justamente, para os milhares que foram chamados mas não escolhidos que eu me sinto na obrigação de aqui formular um voto expresso de gratidão ao Verbo Divino, pelo que a sua presença em Portugal significou para a vida de tantos de nós e para o próprio progresso do País.
É preciso ver que as levas de jovens motivadas pelo padre Lúcio (e outros, nas zonas de Fátima e Guimarães) vinham de zonas rurais e de famílias pobres e cujo mais provável futuro seria o da emigração. Pois, além de lhes terem sido facultadas as ferramentas teóricas e práticas para melhor singrarem cá fora, a SVD educou-os à base de princípios éticos, humanos e solidários que os marcaram indelevelmente.
Nem preciso especificar, ou nomear, as profissões e os profissionais (advogados, juízes, bancários, seguradores, contabilistas, funcionários públicos de toda a ordem, médicos, jornalistas (o meu caso), professores, etc.) de que o Portugal interior e pobre assim beneficiou, graças à competência e ao espírito de missão da SVD. Isto no plano colectivo. Já no individual, o que eu sei é que são raros, raríssimos, os descontentes ou ressabiados, pelos anos vividos intra-portas dos nossos seminários. Até eu que, ao ser despedido no fim do 5º ano, vi frustrada a pretensão juvenil de ir ensinar Latim na Universidade de Nagóia (Japão) ou missionar de «teco-teco» na Papuásia-Nova Guiné (as coisas que os jovens sonham…), ainda hoje, uns 50 anos depois, sinto continuar a ser meu dever repetir: muito obrigado, por me terem feito membro da família verbita, para toda a vida. À Congregação do Verbo Divino, portanto, a minha inteira gratidão.
Daniel Reis
Nota
Este textinho foi publicado, a pedido do David Sampaio, seu Director, na recente edição especial da revista ‘SVD Ao Encontro’, destinada aos actuais alunos verbitas. Como se trata de uma publicação de circulação restrita (600 exemplares) e que, julgo, poucos dos nossos ‘bloggers’ conhecerão, pareceu-me interessante republicá-la aqui, retocada e corrigida na informação estatística de padres e ex-alunos. A quem, porventura, já tenha lido, as minhas desculpas por voltar a chateá-lo. DR
Juntos à mesa, no recente Encontro do Tortosendo, três integrantes do Curso de 1959. Da esquerda para a direita: Francisco Magueijo, Daniel Reis e Eduardo Moutinho. Também lá estiveram, como é costume e entre outros, Virgílio Domingos e José Freire. Entre Guimarães e Tortosendo, o recrutamento desse ano colhera uma centena de rapazes. E só duas dessas criaturas terminaram o sétimo ano, ninguém se aventurando a percorrer o restante caminho de virtudes, até lá para o 16ºano
Fazemos todos, das do Daniel, nossas palavras. Ag da silva
ResponderEliminarObrigado Daniel pelas sábias palavras. Comungo 100% das suas palavras. Nem só de números vive o homem. Apetecia-me dizer como o outro: há vida para além... neste caso dos números. Mais importante de quem chegou a fazer os Votos Perpétuos é o que ficou. Ou o que perdurou. Não tive oportunidade de ler o seu texto no SVD Ao Encontro. Eu que até fui um dos seus fundadores, corria o ano de 1991... Bem haja pelas suas palavra.
ResponderEliminarTó Natário