domingo, 7 de novembro de 2010

Como se constrói a vida?


Foi ao olhar para ele, o HBA, que tentava fugir da cruz para ir socorrer os prisioneiros de Auschwitz que compreendi que alguma (muita) coisa falhava no nosso cristianismo de momentos e ocasiões. Esta magnífica escultura encontra-se dentro de um santuário em Nova Huta/Cracóvia (Polónia). A tensão que atravessa aquele corpo e a  expressão de dor e desespero chocaram-me e incomodaram-me... e fizeram-me reflectir sobre muitas coisas e formular muitas perguntas, desde a dimensão solidária que o nosso cristianismo há muito secundarizou, passando pelo facilitismo com que argumento em defesa e justificação de muitas omissões, preguiças e insensibilidades.
Este homem/deus, o da cruz, está ali lembrando aos polacos e a outros que por lá passem e o queiram visitar... que não há nada: falta de tempo, falta de meios, falta de saúde, falta de jeito, falta de qualidades, falta de apoios ... que justifique a nossa mediocridade, porque o HBA tinha muito menos e doou-se até à última gota de vida. Construiu uma vida... dando-a e gastando-a.
Daí que, por vezes, dou comigo a pensar e a meditar sobre o que é a vida, porque nos agarramos tanto a ela, e como a vamos construindo de modo a dar-lhe significado e sentido. E vem-me à mente frequentemente o Cristo de Nova Huta e outros cristos pelos quais nutro uma enorme paixão e carinho: o do Estreito/Oleiros (Portugal), o da igreja dos carmelitas Burgos/Espanha e o de José Rodrigues que se encontra na igreja do seminário de Viana do Castelo (Portugal).
Todos sabemos, independentemente do discurso, que esta é a questão da nossa existência. Afinal, para que serve e a quem serve a minha vida? O que faço dela e com ela? E as respostas “públicas” são umas e as “íntimas” são outras... Mas quaisquer delas desafiadoras, porque nunca nos satisfazem como gostaríamos.
Costumo dizer, uma que outra vez, aos meus alunos do 12º ano que uma vida vale a pena se ao olhar para ela descobrirmos que, durante dez breves segundos (eu sei que não são breves nem longos!), ela serviu para fazer, pelo menos uma outra, um pouco mais feliz e que o “haver” dos contabilistas de deus tem isso em conta, por ordem expressa da SS.ma Trindade (não é esse o nome do nosso deus?).
Mas, indo um pouco mais além, diria mesmo que as vidas se constroem vidas sobre três pilares, que são os do verdadeiro seguidor do homem dos braços abertos: misericórdia, compaixão e cordialidade.  Foi isto, por exemplo, que o pai do filho pródigo fez. Não julgou, não repreendeu, não se lamentou... nem sequer lhe deu atenção quando ele – o pródigo -  tentava implorar o seu perdão. Só se alegrou! E, de tão feliz, ofereceu uma grande festa! Que sorte teve o pródigo em não se ter encontrado primeiro com o irmão mais velho. A história, sabemo-lo, pela narrativa, teria sido outra bem diferente... nós, honestamente, andamos muito mais perto do irmão do que do pai... por mais que o disfarcemos. Teríamos, seguramente, um bom raspanete para lhe aplicar e umas exuberantes “trombas” para lhe mostar a alegria experimentada com o seu regresso! Não nos iludamos: uma vida de desculpas, de dedos apontados e de acusações... é uma vida pobre e muito longe da do HBA. A qual, para vários de nós, ainda nos diz alguma coisa... Jj-a

1 comentário:

  1. Ou de como pode ser soberba uma lição tão simples.

    N. Marques

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