JOSE DE JESUS AMARO
É isso: abstive-me! Apesar de me sentir incomodado com o modo como as pessoas reagiam, quando lhes dizia que era isso que iria fazer. E foi o que fiz. E não tenho remorsos ou má consciência de qualquer espécie nem me sinto um cidadão menos consciente do que aqueles que votaram, independentemente em quem tenham votado ou se optaram pelo nulo ou branco.
E abstive-me porque não acredito na bondade dos partidos, enquanto organizações capazes de alterar o estado de coisas em que nos encontramos, e muito menos acredito que eles as queiram mudar.
Veio o FMI? Veio! Veio a UE? Veio! Veio o BCE? Veio! E que venham muitos mais ainda. Quantos quiserem vir. A mim não me incomodam nada! Vieram e fizeram o que devia ser feito? Não sei... eu não tenho capacidade para ajuizar! Fizeram bem o seu trabalho? Espero que sim! Vão-nos ajudar? Não acredito! Melhor: darão algo em troca de algo, porque essas instituições não têm como objectivo/função ajudar alguém e muito menos os pobres.
O regime é irreformável? É! Ele diz querer regenerar-se, mas não se reforma, porque a sua essência é mesmo essa: ter poder, conquistar poder, se o não tem, e combater o poder, conforme as circunstâncias!
As injustiças vão continuar, apesar dos discursos crocodilóides, de muitos dos que nunca se interessaram pelos pobres a não ser nas campanhas eleitorais. As reformas chorudas de alguns vão continuar? Mas alguém duvida disso? Os impolutos que recebem várias vão continuar a recebê-las? Pois, claro! As “corporações” profissionais vão continuar a alimentar e a reclamar não só os que têm, mas ainda mais privilégios? Claramente, claro!
Assim sendo, como não acredito abstive-me. E isso resolve alguma coisa? Não! Mas eu também não quero resolver nada. Quem se candidata e promete é que deve resolver! Nem eu quero dizer aos que se candidatam o que devem ou não fazer (moralismo!).
Eu não acredito na democracia representativa? Não! Eu não conheço os que me representam. Nem o que são, nem o que fazem, e muito menos os méritos que têm para me representar... (que não são precisos muitos). Gostava de uma democracia participativa? Gostava! A qual não só cultivasse como potenciasse as diferenças como riqueza e como desafio à harmonia entre desiguais. É claro que ainda não chegou, nem vai chegar tão cedo! Mas ela é o futuro...
O dever cívico de votar? Quem o inventou? Os que antes achavam que o voto era direito só de alguns? Provavelmente, não! Os partidos políticos? Talvez! Até lhes dava jeito...
E, já agora: gosto de ouvir as autoridades (padres e bispos) da igreja católica lembrarem esse dever aos cidadãos (penso que ainda não penalizam o seu não cumprimento com pecado ou excomunhão). Se é tão bom e tão importante porque não o introduzem nas suas práticas? JJ-A
Tantas questões. Tanta acuidade na tua reflexão.Admiro( e, sei que isso não é importante para ti)a tua atitude frontal. Limpa. Corajosa.Na circunstância atual, foram mais de 40% que praticaram a abstenção. Apesar de tudo eu pergunto: tera sido a melhor atitude? Eu procuro querer acreditar que que a solidariedade e a fraternidade têm ainda um longo caminho cheio de dificuldades para se exprimirem em comunhão. Ja nem falo na igualdade de direitos que as Constituições apregoam mas que os legisladores transformam em leis e decretos a favor dos mais poderosos. Também não gosto de utilizar estes vocabulos, mas é a realidade.
ResponderEliminarE a Igreja, parte dela, não aplica o que vem no evangelho "dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus..." Acomoda-se sofrivelmente em vez de contribuir para a libertação.
Quando poderei um dia encontrar-me contigo, para conversar, trocar umas palavras, escutar...
Continuo, a ter Esperança, apesar de tantas contradições dolorosas.
Também já o fiz, j-a.
ResponderEliminarNão desta vez - porque quis crer que uma das proposta era menos má que as restantes (sim, em mim a acumulação de Fevereiros não diminui a ingenuidade!) - mas em ocasiões em que percebi a absoluta irrelevância da minha cruz (e de todas as demais, já agora): nas europeias (sempre!), nas presidenciais (quase sempre!).
E em todas essas ocasiões não foi por desdém da democracia representativa (a directa é irmã da irracionalidade que incendeia bastilhas, da demência que lapida adúlteras, da turba que enforca "desgraçados", da "rua" que destrói bens): foi porque o meu voto branco seria, como sempre, englobado nos "brancos e nulos". Uma afronta!
Nicolau M.
Aceito que chames à participativa directa. Penso que não altera a "coisa" significativamente, mas não imaginas o bem que me faz, quando ouço falar de Rio de Onor e de Vilarinho da Furna, que infelizmente já desapareceu, enquanto aglomerado populacional. Nós sabemos que é possível, se quisermos e sonharmos. Leva tempo e tem os seus custos? É claro! Mas a outra no que é que tem dado? Mediocridade (veja-se a qualidade das participações), oportunismo (ao fim de meia dúzia de anos já se reformam, enquanto outros precisam de uma vida para chegar à miséria). Aceito que vás buscar as irracionalidades a que ela pode dar aso. Mas a outra se não dá aso a isso - é mais mole: não lapida, não incendeia, não enforca desgraçados, não fusila - também não sai da cepa torta de alimentar desigualdades gritantes e aberrantes.Quanto aos fevereiros, os meus é que me tornam ingénuo... os teus dão-te solidez ao pensamento. Abç.
ResponderEliminarIrmão, gostei muito do seu pensamento final, do texto principal!
ResponderEliminarQuanto ao voto, é um sarilho... se de um lado chove, do outro troveja. Votar? Legitimar quem nos vai esmifrar, discriminar por puro interesse pessoal e de lobbys? Ao que chegou a nossa representatividade, quem tomou conta disto?... e, não larga! Não custa nada, dois ou três cabeças de cartaz, rodeados de uma carneirada enfadonha e enfadada, que roda 10 em 10 anos (???) e o eterno poder, perpetuado, sem ponta por onde se lhe pegue, ou sequer, algo que mereça uma paragem para reflectir! Em BRANCO, pois, que atrás vem gente!
abç